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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sobre gostar de sofrer


“Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor
Renato Russo

“O meu delírio é experiência com coisas reais”
Belchior

Eu gosto de sofrer, ir ao fundo do poço, chorar, me desesperar, me sentir inútil, um lixo, um grande pedaço de bosta, um idiota quando finalmente chega a época. Sim, eu gosto. Experimento a dor como quem fuma uma maconha, como quem chupa uma língua volumosa e deliciosamente saliente em minha boca, como quem resiste até o fim antes de morder o pirulito, como aquela transa na qual a gente não quer gozar nunca. Afinal de contas, a felicidade é o Super-Homem, a dor é o Batman; As coisas boas da vida são o Kid Abelha, as desgraças são a Legião Urbana; a bonança são “oncinha pintada, zebrinha listrada, coelhinho peludo”, o conflito é o “vão se foder”; as coisas que dão certo são o marido, as que dão erradas são o amante; a alegria é o Pierrô, o sofrimento é o Arlequim, e no carnaval da vida somos todos Colombina.

Custou, mas aprendi a conviver com meus próprios demônios, e ainda os acalento quando posso, com direito a por música deprê para eles ouvirem comigo. Não nego a mim a chance de quebrar a cara quando acho que algo vale a pena. Procuro não ter medo de me jogar do precipício, de arrebentar a cara. Eu não tenho a menor vergonha de chorar. Eu não procuro a dor, não nego que é ótimo estar bem, ser  chamado de comível, de inteligente, de amigo, fiel e coisas assim. Contudo, depressão é não querer dar colo pro desespero, tadinho. Eu já tive vontade de me matar, mas na hora exata não tive coragem, porque fui seduzido por minhas próprias lágrimas, saboreei o gosto salgado e fiz delas uma canção.

Não, eu não procuro coisas ruins, só parei de negar infantilmente a mim mesmo que elas existem. Uma hora o baile funk, o sertanejo universitário, o tecnomelody e o novo episódio dos Ursinhos Carinhosos acabam. Sempre acabam. Quando tudo acaba mergulhamos em nosso próprio poço, e nenhum deles é raso, só precisamos parar de ter medo de ir lá no fundo e voltar. Sempre podemos ir mais fundo, e sempre podemos voltar.


8 comentários:

Batom e poesias disse...

Como sempre visceral, intenso.
Esse é o meu garoto!

Sabe...

Bjs e abraços

Thayssa Vanessi disse...

E"ve"raldo, eu te entendo. Rs!

Cris Medeiros disse...

Rapaz, seus textos são sempre muito bem escritos!

Eu não tenho medo de admitir para mim mesmo que estou na merda emocional. Só não gosto de dividir isso com as pessoas, porque ninguém está interessando em infelicidade alheia. Mas eu comigo mesma tenho muitas crises existenciais e vou fundo nelas, porque é delas que vou tirando soluções.

Beijocas

byTONHO disse...



"SoFREEdo para viver!"

Este garoto tá ficando grande... um HOMEM legal!

:o)

Diogo Didier disse...

Ler seus textos é sempre um prazer para mim.

Esse, por exemplo, é fantástico. Na verdade,você tocou num tema que poucas pessoas teriam coragem de dissertar: a dor.

Sofrer não é bom, isso sabemos. Mas, é inevitável não sentir dor, sofrimento, angústia, medo, pois são esses sentimentos que nos fortalecem no fim de tudo.

E vale a pena senti-los, desde que não nos entregamos a ele por completo, pois como tudo na vida, a dor também passa.

Bela reflexão, como sempre! ;)

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

definitivamente não podemos temer nossos poços, por mais profundos q eles sejam ... perfeito como sempre ...

ps: Gente! q proposta mais "indecorosa"! kkkkkkkkkkkkk ... mas como sou #dessas amei ... OMG!

Beijão

[Ananda] disse...

Eu não gosto de sofrer, mas aprendi desde cedo que a vida, o sofrimento é quase um atentado, uma moléstia para mim superável mas nunca sem deixar ressentimentos, sempre deixa aquela cicatriz lá no fundo do coração.

[Ananda] disse...

Feliz de sua parte poder gostar de sofrer, boas dores.
Abraço!