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quinta-feira, 29 de março de 2012

O Canalha - Caça 8

Ele foi passar três meses numa outra cidade a trabalho. Grana boa, trabalho desafiador, local muito bonito. Mas o que animou mesmo o nosso anti-herói foram os novos colegas. Três rapazes e uma moça - que aliás era muito bonita. Eles logo se enturmaram. No entanto, os três rapazes ficaram loucos pela garota. Ele a achou atraente, mas como os outros já eram afim antes da chegada dele, não achou legal ficar dando em cima. Então a tratava despretensiosamente.

Enquanto os colegas davam flores e pagavam as contas, ele a xingava e dizia que ela tinha orelhas horríveis.  Enquanto os colegas diziam palavras doces ele vivia dizendo que ela tinha um jeito de quem gemia muito loucamente na cama. Enquanto os colegas exibiam-se como pavões no cio, ele nem se comportava direito. Passados dois meses, nenhum dos três amigos do Canalha a conquistou.

Houve uma viagem a uma comunidade bem afastada do centro do município onde trabalhavam. Era uma espécie de aplicação do projeto experimental desenvolvido por eles. Todos os cinco se saíram bem, mas para a moça quem mais se destacou foi o Canalha. Por viver sempre na sacanagem, ela achava que ele não seria um bom profissional. Por isso surpreendeu-se positivamente.

A noite ela foi dar os parabéns a ele. O Canalha estava deitado na sua cama, só de short. Os outros três rapazes dormindo, cada um no seu quarto do mesmo hotel. Mas, tamanha era a certeza de que nada rolaria, que ele pediu pra ela sair logo dali porque estava morrendo de sono. E estava mesmo. Ela então o chamou de estranho. Se despediu e saiu. “Estranho?”. Essa palavra ficou rodando a cabeça dele. Foi como se o "Canalha" nele, adormecido há dois meses, voltasse a acender.

- Depois que você saiu me deu uma dor na costa. Não quer vir aqui e me fazer uma massagem? Perguntou ele via sms.
- Eu não. Por que eu faria isso? Respondeu a moça.
- Porque se não vier aqui, vai perder o pagamento.
- O que você vai me dar?
- Esse é o último sms que mando. Se não vier, tenho certeza que vai se arrepender. Enviou o Canalha, e depois desligou o celular.

Ela enviou sms, Ligou. Xingou sozinha. Vagou pelo quarto. Ele não era o mais bonito dos quatro. Não era o mais simpático. Por que ela iria? Não encontrou resposta. Não sabia se realmente queria ir, então abriu a porta, pra ver se não tinha ninguém no corredor, caso quisesse mesm[súbito, ele entrou no quarto a tomou pelos braços assim que ela abriu a porta].

“Ei! Por que você entrou?”, perguntou ela enquanto ele a abraçava e beijava-lhe o pescoço. “Porque você abriu a porta, ué”, respondeu. “Eu...”. Ela tentou dizer algo, mas foi interrompida pelo beijo mais aguardado de todos os tempos dos últimos minutos. Ela já estava com os olhos fechados, e quase o abraçava quando ele parou. “Se quiser continuar, sabe onde me encontrar”, disse ele e logo em seguida voltou para o seu quarto. Ela ficou ali. Estática. Sem saber o que fazer. Era muita humilhação para uma menina que podia estalar os dedos e ter até mesmo o maior dos seus chefes. “Esse cara é estranho”, pensava consigo.

“Pois eu não vou”, decidiu. Deitou-se na cama. Embrulhou-se. Tentou fechar os olhos, e cada vez que cerrava a visão lembrava daqueles olhos até pouco tempo a devorando. Lembrava das piadas que sempre a faziam rir. “Ele não vai mesmo voltar aqui?”, a essa altura já pensava. Não resistiu e foi até ele. Bateu na porta. Ele não atendeu. Estava destrancada. Entrou esperando a mesma pegada de antes. Mas não aconteceu. Ela entrou mais, o chamou, e nada. Pensando que já era palhaçada procurou embaixo da cama, no banheiro, no armário... e nada. “Ah filho da mãe!”, se indignou. E voltou para o quarto muito revoltada.

Deitou na cama e virou-se de lado para ver se conseguia dormir, mas sentiu o braço dele a envolver. Ela tentou vê-lo, mas o Canalha não disse nada e nem a deixou virar-se. A tocou. Ela estava "convidativa". “É você, né?”, perguntou com voz quase trêmula, toda ardente de desejo. Ele nada respondeu. Arredou a calcinha dela e a penetrou enquanto ela fechava bem os olhos e escancarava a boca involuntariamente. Misterioso. Ela, apenas crendo e desejando que fosse ele. Depois de fazê-la gozar naquela posição ele a vendou com um lenço levemente perfumado e continuaram. Depois de terminarem ainda ficaram um tempo trocando colo. Ele saiu sem nada falar e sem se deixar ver.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Sobre água e conflitos...

Até os cinco anos de idade minha família e eu morávamos numa casa de madeira, no bairro da Sacramenta em Belém. Vivíamos sobre o igapó, ou, como queiram, uma espécie área alagada com água insalubre. Nossas ruas eram pontes nem sempre seguras. Vez ou outra alguém caía delas na água suja - devo ter caído algumas vezes, inclusive. Quando chovia, as casas que lá se encontravam ficavam mergulhadas no igapó. O nosso drama familiar só foi resolvido porque o irmão do papai nos cedeu o terreno em área seca no qual minha família mora até hoje.
Partilho isso porque há 20 anos a ONU celebra no dia de hoje (22/03) o Dia Mundial da Água. E quando a gente fala de água, não falamos só de água pra beber.Enquanto minha família, empobrecida, não teve outra escolha na época a não ser morar numa região onde havia águas indesejáveis. Até hoje muitas pessoas na Amazônia acabam tendo que morar sobre pontes (palafitas) ou a beira de canais onde estão as "águas que não servem". Ou seja, as pessoas que para a sociedade capitalista "não prestam" moram perto da "água que não presta", enquanto que, as "pessoas que prestam" vivem perto da "água que presta", como em frente a praias badaladas.
Eu moro na Amazônia, que concentra cerca de 8% de toda água doce do mundo. Daqui a 20 anos, nós mesmos aqui na Amazônia podemos não ter água pra beber, e isso não vai ser porque desperdiçamos água, e sim porque as águas que temos estarão todas contaminadas pela ação indiscriminada do agronegócio, das mineradoras, das indústrias, e até mesmo pelos esgotos de lares que não passam por tratamento.
Daqui a 20 anos, nós teremos praticamente a mesma quantidade de águas que temos hoje, mas elas estarão poluídas devido à irresponsabilidade desse sistema que vivemos e a falta de um desenvolvimento solidário sustentável e territorial.
Água não é mercadoria, nem propriedade dos ricos e dos seus empreendimentos. Água que não presta não deve ser bebida de quem não tem dinheiro para comprar água mineral nem moradia para quem não tem onde morar. Privar as pessoas do direito de usufruir da água, que é dada para nós gratuitamente pela grande mãe Gaya, é cruel. No futuro, muitos não morrerão de sede. Muitos morrerão pela sede de poucos.