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domingo, 9 de setembro de 2012

O Descobrimento do Universo

Texto feito em parceria com a blogueira Alana, do blog Palavreando...



Ele escrevia contos de fada sobre ela. Fazia daqueles cachos castanhos o travesseiro das suas palavras. E de lá, elas brotavam sorrateiras para cada parte do violoncelo, que para ele, era o corpo dela.

Ela aceitava aqueles olhares com a culpa de quem foi criada num jardim aonde as flores eram proibidas de desabrochar. Tinha vontade de ir, mas só quando já estava de volta. Sonhava com fogo sem ao menos poder ter sido fagulha, e pedia perdão a Deus por imaginar que todas aquelas notas que ele tocava eram sempre lá.

Nas sobrancelhas levemente arqueadas pelo olhar temeroso, ele a observava como se as palavras fizessem dela pôr-do-sol, início e fim ao mesmo tempo, abrindo espaço para um eclipse que aconteceria adiante. Para ele, nas pupilas dilatadas ela era o dragão fêmea, que inescrupuloso cuspia fogo e fumaça em meio ao quarto vazio de tudo que não fosse os dois.

Ela então passou a olhá-lo como quem abre a porta e a tocar nele como quem abre as pernas. Sorria de tudo que ele falava, mirava tudo que ele fazia, mas parecia que quanto mais ela andava menos saía do lugar. Era pecado demais chegar e dizer que o queria. Na verdade, ela se culpava pelo simples fato de querer tanto, mas aquela brasa não parava de incendiar - e um fogo que ela já não conseguia acreditar que aquecia os dois. Por que ele não a tomava para si, se ela já era dele?

Ele, confuso em meio àquilo que o corpo dela lhe dizia, se perdeu. Afundou-se no conto de fadas do qual sonhara fazer parte, e pensou ver sua musa musicista perder-se também nas notas, no fogo e no colchão, deixando-o desnorteado. Ele fugiu então pelos labirintos de onde viera até cruzar com os primeiros olhos castanhos que o esperavam na esquina. Estes olhos, que de musa não eram, trouxeram-no à realidade que não queria viver. Agora, era só o corpo, a culpa,  a puta, o gozo, a roupa, a polpa da noite que chegava ao fim.

Restou a ela a rua da dor que todos percorrem quando a paixão é via de mão única. Ele e a outra. Ela consigo. Ela, ela mesma, e ele nas lembranças. É o que ela tinha, e o que ela era conforme se descobria. Todos aqueles desejos fizeram com que ela achasse com as próprias mãos o caminho do desejo em si mesma. Ela sonhava e a mão descia, apalpava, esfregava. O dedo dentro. A mexida; o contorcer; o contorcer; o mexer; o entrar; o arreganhar e apertar de pernas; o gemido que escapava; aquilo que veio lá de dentro quando ela finalmente chegou. Ao abrir os olhos depois de experimentar o orgasmo, ela viu os olhos que a observavam pela fresta da porta que esquecera aberta. A mãe, ao perceber-se flagrada, foi rezar como quem sente inveja, e a moça sentiu a vergonha de quem não se arrepende.

6 comentários:

Paulo Roberto Figueiredo Braccini - Bratz disse...

verdades nuas e cruas com a facho de luz q lava a alma de culpas e nos encaminha para a possibilidade de uma vida plena e abundante sem sentimentos de erro e pecado ...

amei

bjão

Diogo Didier disse...

Coisa boa, Eraldo!

Fico feliz com a sua volta...gosto muito desse blog, de verdade...na realidade, seu blog é um dos poucos que eu gosto e me identifico...vc tem uma forma muita sua de escrever e isso me agrada muito!

Quanto ao texto, intensidade, cadência e originalidade são as palavras que agora encontrei para, preliminarmente classificá-lo...parabéns querido!

bjoxxxxxxxxxx no coração!

O Garoto do Blog. disse...

é meu amigo que bom que vc esta de volta viu...passando aqui pra deixar um abraço
e desejar um otimo final de semana...
O texto muito bom viu...bastante intrigante gostei meus parabens...

Sinceramente: O Garoto do Blog.

2edoissao5 disse...

...mas aquela brasa não parava de incendiar - e um fogo que ela já não conseguia acreditar que aquecia os dois. Por que ele não a tomava para si, se ela já era dele?


eu escrevi isso? rsrsrsrs

byTONHO disse...



PAU.lino PICA.nte!

:o)

Eraldo Paulino disse...

Sou extremamente competitivo. Não gosto de perder nem para as pimentas :)