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terça-feira, 31 de maio de 2011

Josés e Marias da Amazônia - Terra sem lei

Este post é dedicado a José Cláudio, Maria do Espírito Santo, Herenilton Pereira dos Santos e Adelino Santos (Dinho), mártires da Amazônia, tombados diante do neoliberalismo.


A Amazônia é uma imensidão de verde manchada de sangue. Lugar que fede a fumaça do desmatamento, lugar que se desenvolve sobre o trabalho escravo e que vê tombar quem não se cala. Uma porção de terra que dá luxo pra bois e destino pior que o de suínos a muitos seres humanos. Isto pode até ser uma visão apocalíptica ou no mínimo pessimista, mas ainda assim mais verossímil do que a imagem transmitida pelo PiG* sobre a Amazônia. Parece que Amazônia é só bicho a ser preservado, mato a ser preservado, micro-organismos a serem preservadas, boi a ser preservado, soja a ser preservada, Belo Monte a ser condenado, etc.

Manaus -AM
Acontece que a Amazônia é formada também e principalmente por pessoas. Além de toda a beleza exótica (para os outros, não para nós) da floresta, existe por aqui um panteão de vida, de diversidade, de riqueza cultural que pouco se vê em outros lugares do mundo. Aqui falamos vários idiomas, dialetos. Aqui nós tomamos banho de rio e corremos no mato, mas também andamos de avião e passamos por engarrafamentos. Aqui nós somos um pouco índios, mas também somos um pouco japoneses, um pouco africanos, mineiros, nordestinos, europeus, goianos, etc.


Por isso, não foram ambientalista (apenas) que morreram nos últimos dias defendendo a Amazônia, foram pessoas, acima de tudo pessoas, seres humanos que tombaram diante de um modelo nefasto de desenvolvimento que premia escravagistas, grileiros e madereiros assassinos e esquece ou finge não esquecer quem de fato se importa com a Amazônia. Pessoas morreram defendendo o meio-ambiente sim, mas também o direito de pessoas buscarem o desenvolvimento desta terra de forma plenamente sustentável, não essa sustentabilidade que o sistema mente querer, agora que esta palavra está na moda, mas a sustentabilidade que não vê o lucro acima de tudo.

Chico Mendes, mártir da Amazônia.
Uma outra irmã como Dorothy foi martirizada defendendo a Amazônia, por exemplo, e ninguém sabe, pois não renderia tanta audiência ao PiG (Ir. Adelaide Molinari). O que quero dizer é: quem precisa de nós não é a floresta, ela não precisa de nós, nós é que precisamos dela. Quem precisa mesmo de nós são vários homens e mulheres de diversas etnias e localidades espalhadas pela Amazônia. Pessoas como eu, como nós amazônidas precisamos de atenção a nossas vidas, prioritariamente. Precisamos que o desenvolvimento da Amazônia sirva para vivermos, não para que vivamos para ele e muito menos que morramos por ele.


______________
*PiG: Partido da imprensa Golpista.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

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Pessoas...



Era uma vez, no universo das palavras, conversavam num ambiente cheio de reticências dois pontos de interrogação. A dúvida dos dois era a mesma, mas os dois, de modo diferente, tinham muito medo de qual exclamação viria como resposta. Os dois então se debruçaram nos planetas diversos que a palavra proporciona. De repente, eram dois pontos passeando por vários ambientes de dor, sofrimento, alegria, fogo e fantasia. Até que sob a sombra de uma árvore, num paraíso de concreto já bastante escuro, a luz substituiu a palavra, e o que já eram dor, sofrimento, alegria, fogo e fantasia, misturaram-se numa viagem a outros universos de sensações. Sucções de libido e ternura envolveram as interrogações até que a certeza já não importasse mais, ou pelo menos não o suficiente pra modificar a importância de estar ali, fazendo aquilo, falando nada e dizendo tudo o que realmente deveria ser dito.

Vez ou outra, quando acidentalmente pousavam as duas interrogações no mundo dos pobres desgraçados, um chegava a perguntar ao outro coisas como: "Valeu a pena esperar?", "Mas tínhamos que esperar tanto?", "Por que você desorganiza meu coração já bagunçado?", "Porque você é a resposta pra todas as perguntas que nem ao menos perguntei?" Mas então, o mais suave que a rapidez pode ser, eles voltavam a navegar em correntes macias e envolventes de outros nichos, experimentando o que já sonhavam, sonhando com o que não haviam experimentado.

Até que as duas interrogações viraram apenas uma palavra: "tchau". E com a forma que apenas nossos olhos dizem e somente nossos corações entendem, disseram: "até breve"...

sábado, 21 de maio de 2011

BLOQUEAR REDES SOCIAIS NO TRABALHO

Existem muitas repartições e até mesmo instituições de ensino (superior, inclusive) que bloqueiam as redes sociais, sobretudo msn, youtube, orkut, facebook e twitter. Paira ainda em mentes da década passada (rápido, não?) a concepção de que rede social é vagabundagem. Existem colegas estagiários que vivenciam a censura até mesmo em assessorias de comunicação de muitos órgãos governamentais. Eu, naturalmente, sou contra o bloqueio a qualquer site no ambientes de trabalho, da mesma forma como sou contra a proibição de conversas descontraídas entre colegas durante o exercício profissional.

Vamos supor que msn, twitter e companhia também não são fonte de informação imprescindível atualmente. Vamos criar aqui a hipótese de que tem razão os patrões ao achar (porque certamente fazem uso dessa forma) que esse tipo de ferramente só serve para bobagens. Ainda assim seria um equívoco bloquear. Ora, se eu contrato alguém, se eu aceito namorar alguém ou até mesmo se eu aceito vender fiado é porque eu parto do princípio que o outro em questão é confiável.Então, não é bloqueando os minutos que o funcionário pode ter de lazer que vai fazê-lo mais responsável. Se eu contrato alguém, é porque quero ver os resultados. Se os resultados aparecem, o que vai me importar se o cara acessa sites x ou y durante o processo? Há empresas mais espertas instalam programas espiões (o que também não concordo) para monitorar o comportamento dos funcionários sem que estes saibam.

Eu penso que tudo e qualquer decisão na vida deve passar pelo crivo do bom senso. E a menos que se contratem crianças (de quatro anos pra baixo), não vejo sentido em bloquear essas páginas. Seria o mesmo que calar a boca dos funcionários para que não falassem besteira, para que não fizessem piadas, para que não partilhassem informações de vez em quando - das mais sérias as mais simples. E pela lógica, se numa empresa algum funcionário deixar de produzir porque fica usando de forma irresponsável o acesso à internet, quem tem que ser bloqueado na empresa é o próprio funcionário, não os sites em si, porque estes são úteis (de forma lúdica ou não) às pessoas, seja pra ter acesso a informações, seja pra dar uma relaxada durante um momento de tensão, ou mesmo pra não gastar telefone e interromper o trabalho pra saber como a filha está se saindo com os estudos em casa.

Mas o que é mais legal mesmo nessa história, é que as empresas barram as redes sociais para que os empregados produzam mais, para dar mais lucro ao patrão em cima do suor dos trabalhadores, para que depois estes, com o salário injusto (porém legal) que recebem possam comprar celulares que acessem as redes sociais. Resumindo, patrão nosso querer bloquear as redes sociais no ambiente de trabalho é tão eficiente quanto pai exigir que a filha case virgem. Ou seja, o ideal é educar pra fazer da melhor forma possível, porque proibir só nos dá mais vontade de fazer.

O que vocês acham disso?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O mercado fonográfico brasileiro

Sem dúvida o grande mercado brasileiro vive uma entre-safra musical. Tem algum tempinho que não aparece nada no cenário nacional que vire uma febre e que dure mais que duas espinhas adolescentes. Na minha opinião isso é fruto da falta de visão do mercado fonográfico brasileiro ao dar larga visibilidade para bandas modinhas e ao mesmo tempo fechar os olhos para o efervescente cenário alternativo recheado de coisas interessantes.

E sabe, apesar de me irritar ouvir músicas com letras e arranjos que rimam com idiotice o tempo todo no rádio, nem estou querendo dizer que elas não devem existir. Afinal, o que seria dos homens bonitos se não fossem os feios como eu? O que estou dizendo é que o mercado fonográfico brasileiro tem uma síndrome de colono e uma falta de visão que o faz desperdiçar rios de dinheiro com os nossos talentos e investir a cada dia que passa apenas no sucesso do momento, mas isso é um péssimo negócio. Vejam bem que eu nem estou aqui criticando a lógica do mercado em si (que gostaria de deixar bem claro que não concordo), estou questionando o fato de que nem pra ser capitalista o empresariado artístico brasileiro presta.

Para ilustrar o que digo, vejamos aqui as atrações brasileiras confirmadas para o Rck in Rio 2011:
Cláudia Leitte; Sandra de Sá; Ed Motta. Capital Inicial; NX Zero; Milton Nascimento; Ivete Sangalo; Jota Quest; Marcelo D2; Cidade Negra; Skank; Frejat; Erasmo Carlos; Zeca Baleiro; Arnaldo Antunes; Pitty, Tom Zé; Titãs.

Bom, dessa lista, tirando NX Zero e Pitty, tudo já tem no mínimo mais de dez anos, e dos dois ainda, só Pitty tem alguma relevância. A maioria já tem, só de tempo de carreira, mais idade do que a maioria na platéia que se fará presente no maior festival pop brasileiro. Não estou dizendo que os clássicos não merecerem toda honra e toda glória, agora e para sempre (amém!), mas está muito claro que existe algo de errado quando num balcão de novidades só as relíquias brilham. É como se comprássemos sempre o jornal de ontem.

O que mais é espantoso nisso, é que não é verdade que não existam ótimos talentos aparecendo todo santo dia por aí. É que a indústria cultural brasileira faz uma nítida opção preferencial pelos jovens superficiais, edonistas, egocêntrico, efêmeros e egoístas. Todas as grandes programações e produtos culturais voltados para a juventude parecem dizer "jovem é idiota". E a própria mídia contribui e muito para que o jovem nesse contexto pós-moderno em que vivemos acabe ficando assim mesmo. Um jovem com medo de sonhar, de olhar longe, mirar e caminhar não importem as pedras. O Carpe Diem passa a ser então confundido com o aproveite o agora, e o medo de se construir algo que dure mais do que uma cachaça ou que um orgasmo acaba provocando uma dor existencial encravada no vazio de cada um.

Nunca se viu tantos jovens suicidarem-se. Nunca se viu tanta depressão e caso de jovens que piram do nada e pra nada. Antes da queda do muro de Berlin, ainda tínhamos um ideal, ainda que chulo, de que poderíamos derrubar o capitalismo sem nem sabermos ao certo o que fazer depois disso (na maioria das vezes era mais tolice do que ideologia, mas era alguma coisa). A partir do momento em que o muro caiu, as utopias também desabaram junto com os escombros. Desde então, todo e qualquer horizonte que passe daquele risco entre o céu e o mar parece perigoso. É como se voltássemos a acreditar que a terra é quadrada e que depois que cruzarmos aquela linha logo ali nossa embarcação afundará num vazio infinito rumo ao inferno. Hoje paira uma verdade absoluta(mente idiota) que defende o ter ao ser, e, ainda pior, ter pra mim ao ter pra nós, fazendo com que experimentemos a vida com dois cliques (apenas), e que nos tornemos rasos e unidimensionais como uma música do Restart..

E como exigir uma música profunda, com a longevidade da verdadeira obra de arte, se tudo o que essa juventude acredita é em tudo, menos nela mesmo? Como exigir águas profundas de uma poça dágua? E o que acontece aí? O mercado fonográfico, que faz avaliação semelhante a minha, aposta apenas em bandas que façam eco à superficialidade de então. Só que assim como nem toda juventude da década de oitenta admirava o rock brasileiro, hoje em dia também há muita coisa boa na contramão de tanta coisa tosca. Só que, não fosse a rede de computadores, talvez jamais conheceríamos. A arte nesse país simplesmente não tem o mesmo espaço que as porcarias. Resultado: bandas superficiais produzem sucessos superficiais e todo mês o mercado precisa encontrar uma nova porcaria superficial pra voltar a fazer sucesso superficial num ciclo maldito.

Ao contrário de muitos, eu nem defendo o extermínio disso aí que chamam de música. Só penso que o mercado poderia parar de subestimar a inteligência do público, principalmente da juventude, a exemplo do que faz a indústria cultural inglesa, por exemplo. Existe porcaria pop do lado de lá? Existe. Mas por lá um show do radiohead (considerado cult) arrasta muito mais público do que um show aqui da eguinha pocotó (in memorian), por exemplo. Os empresários brasileiros precisam aprender com o primeiro mundo, ou seja, oferecer produtos culturais de qualidade não fará a revolução. Nos EUA, o System of a Dwon não derrubou o Bush, e ainda deu muito lucro pros bolsos empresariais gritando bom gosto. O capitalismo daqui precisa aprender a não ser orgulhoso e abrir espaço pra bandas e artistas com algum tipo de alma. Não se preocupem, mercado fonográfico brasileiro: O sistema não deixará de ser cruel, os empresários não deixarão de ser filhos da puta, mas pelo menos o bom gosto terá mais espaço e num Roquenrio como esse, nós não teremos que esconder nossas porcarias pop dos gringos e só chamar a velha-guarda pra salvar a pátria (que nos pariu).

Abaixo, só no cenário nortista, exemplos de bandas que poderiam estar facilmente na grande mídia no lugar de muitas COISAS por aí:

Madame Saatan, Pará, mistura metal pesado com carimbó (ritmo paraense)


Los Porongas, Acre, tem a admiração de nomes como Dado Villa-Lobos

domingo, 8 de maio de 2011

Envexa

Nossa, eu sou frustrado por muitas coisas. Sou frustrado, por exemplo, por não cantar bem,por não ser o mais bonito da rua, por nunca ter assistido Beatles ao vivo, por nunca ter podido dar um soco na cara do Bush ou do Adan Smith, por ser um homem de pouca fé e nunca ter conseguido andar sobre as águas, por não ser bissexual e estar exatamente no topo da cadeia alimentar (ui), e principalmente, sou muito, mas muito frustrado por descobrir que quando estou finalmente conseguindo voar aquilo é só um sonho. Mas não acho que eu faça das minhas frustrações motivos para encher o saco dos outros. Não perco meu tempo (se houver quem discorde que me fale, por favor) tentando prejudicar as pessoas que conseguem fazer o que eu não faço ou ser o que não consigo ser. Eu não sou o mais bonito da rua, mas já namorei a mais bonita, por exemplo.

Nos últimos dias tenho visto exemplos de como a frustração acaba sendo uma espécie de força motriz para que as pessoas percam o precioso o tempo delas para tentar derrubar aquilo que consideram (ainda que incoscientemente) estar acima de si. É como querer estar no topo acabando com o topo, ou então, de forma ainda mais grave acabando com quem está no topo. E a única explicação que tenho pra isso, é empiricamente acreditar que a frustração pelo não sucesso trás a estas uma espécie de patologia, como se a baixa auto-estima produzisse um ódio inexplicável contra o mundo. Tem gente que chega a matar por isso, e quando não mata, enche muito o saco, sobretudo quando há quem inocentemente dê ouvidos às loucuras dessa gente.

Tem que ter muita baixa auto-estima pra se aborrecer com o talento alheio. Elogio é quem nem sexo: é gostoso quando dão pra gente depois de uma conquista difícil, não tirado a força, isso sempre trás problemas.