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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012 REALmente feliz!

Eu no museu Reina Sofia - Madri/ESP
Eu não sou muito ligado a horóscopo. Fico intrigado com a precisão com que os astrólogos descrevem a minha personalidade sem nunca ter me conhecido, mas não curto adivinhações, previsões do futuro. Não tenho nada contra quem acredita, mas comigo a coisa não funciona. Bom, não funcionava até o final de 2010. Vi no blog do excelente Antônio Rosa, Cova do Urso, além da mais perfeita descrição de mim mesmo enquanto pisciano, que em 2011 eu receberia muita grana, que eu teria que ter cuidado na hora de gastar e tals. Bom, pra minha "decepção monetária"o primeiro ano da nova década não me trouxe dinheiro. Já tive anos bem melhores em relação a isso, mas não posso dizer que não foi um ano rico. O ano que (já) passou foi o ano das viagens.

No ar-condicionado ao ar livre de Goiânia-GO
Eu sei que menti pra umas e uns. Sou do tipo que mente quando não quero passar vergonha (pronto falei). O fato é que até esse ano, eu nunca havia saído do meu querido e agora definitivamente inteiro Estado do Pará. No máximo havia ido ao oeste do Estado, na cidade de Marabá, e confesso que isso me frustrava. Então, em julho, fui ao Congresso da estatal UNE em Goiânia. E de quebra, além de sair pela primeira vez do estado de busão, ainda convivi com pessoas de todo país, com seus sotaques, costumes, trejeitos. Coisa deliciosa. Também experimentei pela primeira vez o que é receber vento frio que não vem de ar condicionado.

Menos de um mês depois, recebi o convite para ir à Jornada Mundial da Juventude (puxa-saco-do-Papa). Pela primeira vez viajei de avião (morrendo de medo) e saí do país. Também para um evento com muita gente, só que do mundo todo. Pude perceber como somos iguais e diferentes, lindos e exóticos, cada um com seu cada um. Não me sai da memória a gente dançando "cada um no seu quadrado" com as lindas argentinas. Bebendo de graça no bar espanhol porque simplesmente o dono gostou da gente - prometemos nos enfrentar na final de 2014 \o/. Lembro de estarmos entre cerca de cem brasileiros e mais de mil jovens de outros países, e só nós usarmos o banheiro pra tomar banho (blerg!). Enfim, não voltei de Madri vislumbrado com a Europa em crise, mas voltei satisfeito pelas histórias que trouxe de lá para contar, além da sensação incrível de ter visto de perto um Picaço (ui).


Em terras sulistas...
Em relação a viagens, não poderia deixar de mencionar a ida a terras sulistas. Lá me senti mais próximo das minhas adoráveis amigas Luna, Michele Pê, Mirella, além do genial Tonho. Infelizmente não pude encontrá-los pessoalmente, mas seja no chimarrão, seja no sotaque, eu os tive perto de mim. Além disso, o ano que passou foi ano que vivi a maior turbulência familiar da história da minha vida. De agosto a dezembro, só me via a mente os versos de Arnaldo Antunes: "A sua casa já desmoronou no meio da sala?". E em meio a isso, eu tendo que produzir minha monografia de conclusão de curso. Faltando 20 dias para o prazo final de entrega, menos da metade estava pronto. Consegui fechar isso com uma colaboração incrível de minha amiga Leila, mas tive que amargar um 9,5 no final, que me doeu pra caralho, pois sabia que o projeto que tinha era bom. Tanto que a banca reconheceu isso. Lembro do prof. Rodolfo comentando: "Se o Eraldo não tivesse viajado tanto...". Aff.


Jornalistas formadas/os - a melhor turma com quem estudei!
Na verdade, não espero nada de 2012, mas estou pronto para tudo. Descabaço o ano desempregado, mas ao mesmo tempo com perspectivas dos melhores empregos que jamais tive. Começo o ano frustrado ainda pelo 9,5 mas com a perspectiva de conseguir defender ótimos artigos. E entre desafios e oportunidades que fazem com que a vida pareça deliciosamente real, espero para mim e para todas as minhas amigas e meus amigos um 2012 que nos dê força para sorrir, coragem para chorar, e sapiência para discernir o que vale a pena gozar.

sábado, 26 de novembro de 2011

O Canalha - Caça Especial


Dessa vez, não sou eu quem contarei a história do personagem predileto da mulherada. Quem conta essa caça especial de "O Canalha" é a Mirella do blog Mi amore. Deliciem-se.

Carolina cresceu em uma família de médicos. Aos dezessete anos, iniciou o curso de Medicina em uma das mais tradicionais faculdades de seu estado. Ela era a previsibilidade em pessoa. No primeiro ano da faculdade, conheceu seu primeiro namorado, um “mauricinho” rico e convencional como ela, e com quem mantinha relações sexuais mornas e padronizadas, com orgasmos raros e tímidos. Manteve o relacionamento por oito longos e tediosos anos, até ela descobrir que ele a traía com a moça cuja família era a mais tradicional e influente da cidade.t

 Estava há um mês sem namorado quando se mudou para um estado vizinho, a fim de iniciar um mestrado. Ao sair com os novos amigos da faculdade, viu aquele sujeito e teve arrepios. Ele era lindo, não podia negar. Moreno, musculoso e tatuado, andava de mãos dadas com uma garota linda, de pele bronzeada, longos e esvoaçantes cabelos loiros e usando um short curto, que exibia as pernas mais perfeitas que Carolina já vira em toda a sua vida. Sentiu arrepios e nojo porque o sujeito devorava Carolina com os olhos, sem se importar com a garota ao seu lado. “Canalha, não tira os olhos de mim mesmo com a namorada ao lado!”, pensou Carolina. 

“Hum, carne nova no pedaço. E essa é diferente das outras.” Pensou Marcos, ao avistar Carolina. Ele não havia sequer terminado o Ensino Médio, mas sentia-se doutor no quesito “sexo feminino”. O recato e o luxo estavam estampados em Carolina. Ela estava elegantemente vestida com salto scarpin preto, saia social um pouco acima dos joelhos e uma blusa azul de seda, comprada em sua última viagem a Paris. Seu requinte se destacava aos olhos de Marcos, acostumado àquele mundo de microvestidos e macrodecotes. “Uau, um prato cheio para a minha luxúria”, zombou ele em pensamento, enquanto desfilava ao lado de Denise.

“Uma vadia totalmente louca por mim”. Era assim que ele definia Denise, a loira de pernas perfeitas. Marcos procurava Denise nas noites frias de inverno, quando não conseguia nenhuma gostosa carente e louca para ouvir umas mentiras sobre amor em troca de uma boa trepada. Ela procurava desesperadamente chamar sua atenção e agradá-lo, por isso vestia-se de modo vulgar e fazia sexo como uma puta profissional, gemendo falsamente a fim de que ele se sentisse “o cara” na cama. Denise vibrava de felicidade quando ele ligava nas sextas à noite, imaginando que, no fundo, ele a amava, por isso sempre voltava a ligar.


Denise sempre via Marcos na companhia de outras mulheres, mas contentava-se com as migalhas de carinho que recebia. Ela se enchia de felicidade quando ele falava, durante o sexo, e enquanto puxava seu cabelo, o quanto ela era uma putinha gostosa. "Ah, ele só tem medo de ter um relacionamento sério", pensava ela.

 Agora Marcos estava ali, diante daquela garota linda e requintada, de pele clara e cabelos negros cuidadosamente penteados. Estava louco para sentir o cheiro e o toque daquele pele. Estava louco para desabotoar aquela blusinha de seda e despentear aqueles cabelos. Imaginou-se deslizando a língua por aqueles mamilos e teve arrepios ao imaginar o que ela escondia por debaixo de tanta banca. Estava morrendo de tesão e decidiu: precisava se aproximar daquela delícia.

Dias depois, Carolina não entendeu nada. Lá estava ela, em uma festa de acadêmicos. O que aquele ser desprezível estava fazendo ali? Marcos estava na sua frente, sorrindo gentilmente e lhe oferecendo uma bebida. Ela hesitou, mas decidiu aceitar. Iria manter-se à distância do sujeito e, afinal, estava em uma festa cheia de colegas. Que mal poderia lhe acontecer? Conversaram casualmente e Carolina se surpreendeu ao perceber que já havia contado que era médica, assim como seus pais e irmãos, que vinha de outro estado e que havia recentemente terminado um namoro de oito anos. Aquele cara era realmente bom de papo. E ainda era cheiroso e envolvente. Será que ele teria terminado com a namorada? Pensou Carolina, tentando, ao mesmo tempo, afastar a atração iminente que surgia dentro de si.

Começaram a namorar. Marcos nunca mais procurou Denise. Era perigoso, precisava conquistar Carolina. Precisava ganhar sua confiança. O sexo entre eles era maravilhoso. Marcos pirava com a pele branquinha, macia e cheirosa daquela mulher. Dedicava-se por horas a chupá-la e a explorar com as mãos e a boca cada pedacinho daquele tesouro. Carolina nunca sentiu tanto tesão com um homem. Chupava com vontade e rebolava como uma verdadeira safada. Ficava irreconhecível quando despia a fantasia de “boa moça”.

Dois meses depois, Carolina estava completamente apaixonada por Marcos e ele decidiu: “É agora. Não tem como falhar.” Levou Carolina para jantar. Vinho à vontade. Muito, muito vinho. Era sexta feira e, a uma da manhã, Carolina estava tonta. Marcos pediu que ela realizasse uma fantasia sexual dele. Disse que seria o homem mais feliz do mundo e que jamais esqueceria esse presente. Ela perguntou do que se tratava, com a voz embargada e acariciando as coxas dele. “Menage. Eu, você e outra mulher.” Ela estava prestes a dizer a ele que jamais faria aquilo quando percebeu os sinais de desapontamento em seu rosto. “Ok. Eu topo.”

Carolina e Denise. Ambas apaixonadas pelo mesmo homem e dispostas a agradá-lo. Ali, juntas. Denise quis beijá-lo. Ele pediu que beijasse Carolina. Ela beijou. Lentamente, sentiu os lábios macios da moça branquinha. Carolina estava em êxtase. As mãos de Denise eram quentes e ávidas. Exploravam o corpo uma da outra com maestria. Carolina desceu a boca e sugou de leve os mamilos de Denise, que gemeu de prazer. Com vontade, Carolina deslizou suas mãos pelas pernas perfeitas daquela loira sensacional. Denise virou-se e fez com que Carolina deitasse. Chupou-a com imenso tesão e Carolina gozou como nunca em sua vida. Denise também gozou, nas mãos de Carolina.

Foi só depois que notaram que Marcos não havia participado. Assistia a tudo sentado, gozando sozinho, extasiado com a cena daquelas duas mulheres incríveis. A loira e a morena. A recatada e a putinha. Sentia-se o homem mais feliz do mundo. Estava louco por elas. Apaixonado pelas duas. De um modo que nunca imaginou que seria.

Elas nada disseram. Vestiram-se e saíram, deixando Marcos sozinho e perplexo. Denise e Carolina nunca mais o procuraram. Não aceitavam as suas ligações. Não atendiam quando ele batia à porta de suas casas. Marcos nunca mais foi o mesmo. Ficava com outras garotas, mas aquelas duas não saíam de seus pensamentos. Carolina iniciou um namoro com um rapaz do mestrado, tempos depois. Denise continuava solteira, mas ficava casualmente com um ou outro cara nas baladas.

E nunca, nunca mais deixaram de se encontrar, assistir a filmes regados à pipoca, rir da cara do Marcos e gozar como loucas. “Programa de amigas.”,  Carolina dizia ao namorado. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Espiritualidade


"O tambor faz muito barulho
mas é vazio por dentro"
(Barão de Itararé)

A espiritualidade não é um momento, uma vivência pontual. Tão pouco,  um balão  que sobe ao céu cheio apenas de vento. É uma condição existencial que habita a vida de todas as pessoas como uma mola propulsora a nos impulsionar, mesmo quando não temos mais forças, sempre em direção a algo que no íntimo de nosso ser sabemos que vale a pena. E é pena que nos tempos pós-modernos atuais, em que o sagrado retorna morbidamente maquiado de desejos de riquezas e medo de viver as dores da vida, as pessoas não consigam vivenciar a espiritualidade como a dimensão da nossa resistência no caminho das pedras que são as utopias.

Lembro que, certa vez, um amigo militante dizia que espiritualidade é como as raízes de uma planta. Quanto mais fincada e enraizada a planta está num dado terreno, mais ela tem condições de resistir às tempestades da existência. E diria que uma das maiores tempestades de nossas espiritualidades é justamente a idiotização da fé, fecundada por pseudo-espiritualidades que comercializam a esperança e vendem a imagem de um Deus que não resiste a meio quilo de inteligência ou muito menos a um quarto de quilo de bom senso.

Isolar-se numa redoma de mentiras dentro de uma igreja e fazer pessoas tomarem doses diárias de catarses espiritualistas é algo que agride a vida das pessoas. É uma das formas mais lamentáveis de violência. A espiritualidade de verdade não nos estagna, muito menos nos move para trás. Ao contrário, a espiritualidade é a parte de nós que não consegue ficar presa à opressão que a realidade impõe e nos impulsiona a imaginar um lugar melhor e construí-lo aqui onde estamos. Espiritualidade é essencialmente um espírito de transgressão, de inconformidade com o estabelecido. A espiritualidade não apenas existe para propagar o temor a lobos, mas também para questionar as cercas que aprisionam o rebanho e o cajado opressor dos pastores.



Espiritualidade é crer que as sementes germinam se plantadas no solo bom dos corações e mentes das pessoas. Espiritualidade é militância radical da fé no que é, e principalmente no que deve ser bom. Espiritualidade é rezar a cartilha da poesia, adorar a figura divina da tolerância e se ajoelhar diante do bem maior. Espiritualidade é crer na redundância, até mesmo no pleonasmo do amor solidário. A espiritualidade habita naquela que "não sabendo que era impossível, foi lá e fez"*, mas, principalmente, move aquela que mesmo sabendo que era impossível, foi lá e fez mesmo assim.
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*Mark Twain

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

¿Tiempo Perdido?


"À Procura da Felicidade" foi um filme que, confesso, demorei bastante para assistir. Isso porque quando li algumas sinopses, o longa me pareceu mais uma história de incentivo ao falacioso "Sonho Americano", onde todas as portas estão abertas para você ficar feliz através do dinheiro que você ganhará. Mas aí, um dia sem muito pra fazer, resolvi assistir quando a TV reprisou. O filme é bom. Mas o que mais me chamou atenção no filme não foi nenhuma cena que foi filmada, mas uma que foi contada pelo protagonista, e para mim foi mais imagética que todas as cenas fortes mostradas. Ele refletia sobre como sempre foi o melhor aluno da classe. Sempre elogiaram a sua inteligência. Ele achava que por isso, nunca passaria necessidade. Essa reflexão dele me tocou profundamente.


Nunca fui o melhor da classe. Nunca quis isso. Mas não são poucos os que chegam comigo e demonstram uma expectativa boa a respeito da minha carreira, dizendo que tem certeza de que eu vou conseguir o que quiser na vida e etc. E esse filme me fez despertar para a possibilidade de tudo o que consegui até agora não servir de muita coisa, pois não tenho nada ainda que construí efetivamente. E não falo só de coisas materiais, falo do meu nome, da minha significância para o mundo, para além do meu ciclo familiar. E se o filme da minha vida real, no qual sou protagonista querendo ou não, não terminar com final feliz?


Estou na reta final de minha graduação. Estou num momento de construção de projetos para minha carreira e para minha militância. E confesso que o tempo todo me vem a cabeça a pressão de vencer. De acertar. De conseguir ser o que acham (e o que eu mesmo acho) que sou. Mesmo porque, eu sou nietzschiano. Eu tenho vontade de potência. Não tem graça fazer parte de um mundo onde não fazemos a diferença. Nesse momento estou à procura da felicidade, da definição de que gosto o meu tempero dará ao mundo. Estou vivendo um momento de romance existencial cósmico entre o desespero e a esperança. Mas tudo bem. "Não tenho medo do escuro, mas (por favor) deixem as luzes acesas"¹.
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¹Tempo Perdido - Canção de Renato Russo.
Estarei ausente daqui pelo até o dia 15, aproximadamente. Tenho um congresso para ir no Rio Grande do Sul semana que vem, e tenho que ajeitar umas coisas antes, por isso não terei tempo de postar. Vou passar nos blogs antes de viajar pra dar um alô. Prometo.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O Canalha - Caça 7

Ele. Ela. O Canalha estava indo pagar uma conta. Ela estava indo comprar roupas. Se encontraram no sinal. Os dois se viram. Os dois fingiram que não se viram. Namoraram há bastante tempo, na adolescência, durante um certo veraneio. Ela ficou achando que ele nem a notara. Ele a achou mais linda do que antes. Ele ficou achando que ela acharia horrível a barriguinha avantajada dele. Ela não lembrava como o bumbum dele era bonito. Atravessaram juntos. Ele olhando para um lado. Ela olhando para outro.Tentaram se evitar e conseguiram.

Ele entrou no banco incomodado consigo mesmo. "Como é que eu não falei com ela?", se culpava. Ele lembrou como era tímido na adolescência, como aquilo, de encontrar uma namorada da adolescência, de repente o afetava. Súbito, uma enorme crise existencial acometeu o Canalha. "Não. Espera. Tenho que ser racional.", começou a refletir consigo mesmo o nosso anti-herói. Ele lembrou que um amigo dele poderia ter o número dela, pois estudou com ela anos depois, e descobriu que já tinham namorado. Deu certo. Número na mão. Agora o que fazer? "Já sei", decidiu.


- Alô.
- Alô. Quem é?
- Se você me viu e também fingiu que não viu no sinal, vem ao banquinho em frente ao carrinho de pipoca, no segundo piso do Shopping agora.
- Como assim? Onde é isso? Perguntou ela, mas percebeu que após o convite, ele encerrara a ligação e também o próprio aparelho.


Ela ficou num enorme dilema. Mas a curiosidade era insuperável. Ela foi. Ao chegar, viu o banquinho, mas não havia ninguém. Ele fez a clássica brincadeira de vendar os olhos delas com a mão. "Eu sei que é você. Não acha que isso é óbvio demais?", perguntou. "Eu não estou querendo que você adivinhe quem é, só estou te ajudando. Você ia fechar os olhos mesmo que eu sei", provoca ele, enquanto se põe diante dela e encosta o rosto próximo. Tira as mãos e fala com os lábios quase encostados que está com saudade. A abraça. Mais forte. Beija o rosto. O canto da boca. Ela não resiste. Ela abre a boca. Espera o beijo. Ele se afasta. Ela fica sem entender.

"Vem aqui", disse ele, puxando-a pela mão. Entraram numa das áreas de acesso de funcionários que a maioria das pessoas nem notam que existe. "Você tá me levando pra onde?", perguntou ela, ao mesmo tempo surpresa e sem palavras. "Pra onde você vai descobrir que quer ir tanto quanto eu", respondeu ele. Ele a encosta contra a parede. Olha nos olhos dela, e sem dizer nada a beija e a aperta contra ele. Ela se sentiu dominada, a mercê das ordens dele, e ensopada de vontade de obedecer. As mãos dele passeavam, ela até ensaiava dizer não, mas a boca dele, o jeito dele de conduzir era irresistível demais. Ele pôs o pênis pra fora e olhou nos olhos dela. "Vem". Ela foi. Pôs na boca. Movimentou as mãos. Ele segurou o cabelo dela. Ela gemia enquanto chupava. Gozou só de fazer sexo oral nele, ele disse que estava difícil de segurar. Ele a levantou, quis abaixar pra beijá-la também. "Não. Vem logo, antes que chegue alguém". Saia levantada, perna esquerda dela na mão direita dele, calcinha arredada... Ele foi.

Os dois gozaram juntos. Ela não gemeu mais alto dessa vez, mas ele percebeu porque ela também perdeu um pouco da força nas pernas. "Queria te dizer uma coisa", disse ele enquanto se recompunham. Ela fez sinal que ele poderia dizer. "Eu já te disse hoje que estava com saudades?", perguntou ele com um olhar cínico. Ela riu. Eles continuaram o "reencontro" depois...

domingo, 16 de outubro de 2011

Santinha


Pode me chamar de retrógrado
machista, ou o que for,
mas gosto das sonsas,
das mulheres que se escondem atrás do "amor"...
...das mulheres que se negam a demonstrar a própria devassidão.
Gosto do jogo de palavras, dos olhares que dizem sim enquanto a boca diz não.

Gosto da malícia de quem se oferece se negando
de quem é santa na igreja e vadia na cama.
Gosto que não goste de ser literal.
Gosto que não goste que te levem a mal.
Não tenho nada contra as livres,
até feminista eu sou, se for o caso,
acontece que nos seus labirintos eu me acho.

Não quer homem safado? Tudo bem, é só você que eu amo.
Não gosta de putaria tanto quanto eu? Tudo bem que só eu não preste.
Não quer sair para transar? Tudo bem, vamos jantar.

Eu gosto, santinha
 do contorno que suas neuras me fazem dar...
...até chegar lá.
_____________
A resposta para este poema você encontra clicando na imagem abaixo

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Juventude 2011: é o novo ou o de novo?

"É tudo novo de novo?" Amanhã, 15 de outubro, Belém viverá um dia histórico: o 15 O, dia alusivo ao 15 M, movimento que invadiu as praças da Espanha, especialmente a Puerta del Sol em Madri, e mais do que isso, tenta fazer chegar a Belém a maré que invade o mundo, com manifestações mundo afora, enfrentando impérios estabelecidos ao longo da história, seja os mais totalitários, como no caso dos países árabes, seja os mais veladamente tiranos, como no caso da falsa democracia do primeiro mundo ocidental em países como Grécia, Inglaterra e Estados Unidos, desmascarada pela crise que mina os sonhos da juventude, esta mesmo que até podia ser chamada de apática no século 21, até 2011, o ano em que, do ponto de vista de explosões de manifestações históricas pelo mundo, já é considerado 1968 ao cubo. Mas, volto a primeira questão: e depois?


"Se não nos deixam sonhar, não vos deixaremos dormir",
diziam cartazes do 15M

Não vamos muito longe, basta olhar para o Congresso brasileiro, para os principais nomes que conduzem a política brasileira para chegarmos á conclusão de que "aqueles garotos que iam mudar o mundo" na década de sessenta no Brasil frequentam agora, com a cara mais lavada, as festas do "Grand Monde", eu diria até que são o "Grand Monde". Fernando Henrique Cardoso, o intelectual de esquerda daquela década foi o presidente que consolidou o neoliberalismo; Dilma Russef, outrora torturada pela ditadura, implementa na Amazônia Belo Monte, projeto da ditadura que a torturou, de forma mais avassaladora e incisiva que nem os próprios militares ousaram; José Genoino, outrora guerrilheiro do Araguaia, tem hoje sua biografia manchada pelo mensalão; só para citar alguns.


"Esqueçam o que escrevi".
frase que FHC diz que não disse, mas não pode negar que o fez

Impressionante como o establishment mais parece um vírus indestrutível, com sua capacidade inequívoca de se adaptar a cada nova praga contra ele. Che, de revolucionário passa a ser ícone pop; sindicatos, outrora braço da revolução anarquista hoje é elemento da legitimação do Estado como ele é; a pauta ambiental que antes servia para denunciar o modelo de desenvolvimento predatório hoje não passa de uma política de sustentabilidade da Vale.

"Museu de grandes novidades": museu Reina Sofia (Madri) e gravuras originais do Maio de 68 francês
Não escrevo isso com o pessimismo de quem teme o amanhã, e sim com o otimismo de que não quer ver repetir-se esta parte do ontem. Que o mundo como está não deveria estar é óbvio, sobre isso as crianças que morrem desnutridas na Somália derrubam qualquer argumento contrário a isso. Mas espero que possamos beber das experiências dos revolucionários de ontem e opressores de hoje para que a geração atual (na qual me incluo) diga e faça algo de novo e não de novo.
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Hoje também, com muita alegria e honra, estou no quadro Nossas Marés, do blog Entre Marés, da querida amiga blogueira Suzana Martins. Clique na imagem para navegar até lá.

domingo, 9 de outubro de 2011

Círio de Nazaré

Detalhe do cartaz: rostos anônimos por trás da maior festa religiosa do Brasil.
Na casa do Pai, eu não vou. Sou macumbeiro, sou do demônio; sou maconheiro, sou um transtorno; sou protestante, não vou pro céu; sou homossexual, mereço viver mas não mereço ser eu mesmo; sou artista, e na minha arte não está explícito que Deus é tudo e eu não sou nada então eu não sou ungido; sou católico, mas não praticante;

Mas pra casa da mãe eu vou, pois ela me aceita como sou.

No segundo domingo de outubro, Mãe Nazica faz famílias contemporâneas inteiras sentarem na mesma mesa, comer a mesma maniçoba, tomar o mesmo tacacá, mas não é natal, tem fogos mas não é ano novo. Graças a nossa mãezinha do céu, formamos todas e todos um imenso rio de gente de todas as classes sociais, de muitas denominações religiosas, todos os gêneros e orientações sexuais, indo para o mesmo mar.

São coisas que só uma verdadeira mãe consegue fazer. O Círio é lindo! Há cores, dores, flores, fogos, chuvas de papéis picados, de lágrimas salgadas, e uma assunção de fé incondicional e cativante, inundando cada beco da cidade morena da Amazônia. Mas como é uma festa de mãe, ouso dizer, que é lindo mesmo, porque quem mais precisam são os que fazem a melhor parte da festa. Porque mãe é assim, ama cada filho igual, mas sempre dá mais atenção a quem mais precisa de colo.
A maior compressão de seres humanos num só espaço: Corda do Círio.

Festa da Chiquita: Homenagem da comunidade LGBT a Nossa Senhora.

É Círio hoje. É Círio sempre.

Amém, axé, awerê e aleluia!
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Falo mais sobre o Círio e suas contradições aqui.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Uma questão de fé

*Xô xuá cada macaco no seu galho
Xô xuá eu não me canso de falar
Xô xuá cada macaco no seu galho
Xô xuá o seu é em outro lugar
É preciso ter fé para acreditar que Deus existe. É preciso fé pra acreditar que não.
...
Ele poderia estar estudando, mas sai de casa com a Bíblia em punho, no peito um fanatismo travestido de missão, além da empolgação de um cego que recebe o comando de caminhar para o outro lado se não quiser cair num abismo infinito. Ele sobe no ônibus, não pergunta se alguém ali quer salvação, não se importa de estar parecendo (e sendo) idiota, simplesmente recita versículos descontextualizados de uma teologia digna de qualquer manicômio, e começa a pregar que vai pro inferno que não faz o que ele diz, como um piolhento fazendo propaganda de shampoo. Ele desce do ônibus, sem evangelizar ninguém, sem convencer ninguém, sem salvar ninguém. Encosta a cabeça no travesseiro, e dorme satisfeito consigo mesmo. Quem sabe um dia ele acorde.
...

Ele poderia estar namorando, mas senta em frente ao PC e com bastante informações científicas a respeito das contradições da Bíblia e dos pontos falhos das doutrinas opressoras das grandes religiões ele resolve criar um blog para dizer que quem tem fé é burro e quem é ateu é gênio. Se delicia com os fanáticos religiosos nos tempos de retorno ao fanatismo religioso; derruba cada pseudo-argumento. Partilha sua alegria com os amigos ateus, e, sem fazer bem a ninguém, muito menos a si mesmo, ele vai dormir a noite, fazendo uma verdadeira oração ao Deus do orgulho besta.

...

Eu gostaria que respeitassem meu direito de crer ou de não crer, ainda que eu vá pro inferno ou que morra burro. A idiotice de quem distribui violência gratuita para divulgar a própria convicção não deveria nascer do barro, nem do Big Bang.
____________
*Cada Macaco no Seu Galho (Caetano Veloso)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Traduzindo Eufemismos

Se você pergunta a uma pessoa que tipo de música ela ouve, e ela responde:

- Eu sou eclética.

Na verdade ela quis dizer:

- Eu não entendo porra nenhuma de música, mas gosto de qualquer porcaria que faz sucesso.

Se você pergunta a uma pessoa se o namorado dela é bonito e ela responde:

- Depende do teu critério de beleza.

Na verdade, ela quis dizer:

- Ele é feio, mas eu gosto dele mesmo assim.

Se você pergunta a uma pessoa por que a irmã dela é tão linda e nunca casou, nunca teve filhos e ela responde:

- Porque não consegue encontrar homem que seja sério, que creia em Deus e seja de caminhada.

Na verdade ela quis dizer:

- Ela é lésbica, mas nunca quis sair do armário.

Se você pergunta a um cara se ele é casado e ele responde:

- Eu sou casado, mas já estou quase me separando. Meu casamento está em crise.

Na verdade, ele quis dizer:

- Eu sou casado, mas mesmo assim quero te comer.

Se você pergunta pra alguém em quem ele votou pra deputado federal na última eleição e ele responde:

- Votei num que ajudou minha mãe. É tudo ladrão mesmo, né?

Na verdade, ele quis dizer:

- Eu sou alienado e ajudo o Brasil a ser a porcaria que é porque é normal isso, né?

Se você pergunta a sua esposa porque ela anda diferente, porque não te trata mais como antes e ela responde:

- Não estou diferente não, amor. Foi tudo que você me aprontou que me deixou assim, ou não lembra do que me fez?

Na verdade, ela quis dizer:

- Eu estou transando com outro. Quem mandou me dar ideia?

Se você pergunta a uma pessoa ela vai mesmo àquele compromisso e ela responde:

- Me liga...

Na verdade ela quis dizer:

- Se não aparecer nada, mas nada mesmo melhor pra fazer, então eu vou.

Se você pergunta pra um amigo o que ele acha daquele rapaz e ele responde:


- O cara é simpático.


Na verdade ele quis dizer:


- O cara é lindo, mas eu sou machista demais pra admitir.


Se você pergunta a sua namorada se ela quer terminar e ela responde com outra pergunta:


- É isso que VOCÊ quer?


Na verdade, ela quis dizer:


- Quero, mas prefiro que você termine pra que eu possa me fazer de vítima no futuro.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Postagens Retrô 11 - Crise Existencial



Entrevista exclusiva de mim comigo mesmo:



Eu: Você é feliz?

Eu mesmo: Caramba! Tinha que começar logo com essa pergunta?

Eu: Resposta errada. Se tivesse respondido de outra forma, acabaria logo com a entrevista (risos). Agora me diga quantas vezes você já tocou sua existência essa semana.

Eu mesmo: Gostaria algumas vezes de fazê-lo menos, mas ouvi muita Legião Urbana em minha adolescência pra não me perguntar ao menos uma vez por dia por que eu vivo nesse inferno celestial.

Eu: Te incomoda conviver com tantas pessoas que são tão diferentes de você?

Eu mesmo: Normalmente não. Mas me magoa a intolerância das pessoas. Sabe, as pessoas costumam colocar uma redoma de proteção com auto falante ao redor de si. Além de se protegerem dos outros exageradamente, ficam escutando initerruptamente uma frase repetindo sempre coisas como"eu sei", "eu posso" "eu estou certo", "só eu...". Isso me deixa depressivo.

Eu: Vale a pena se sentir assim pelas outras pessoas?

Eu mesmo: Pensando rapidamente, sem muita reflexão, a primeira coisa que pensamos é que não vale a pena. No entanto, se eu começar a pensar assim, não serei melhor do que os que critico.

Eu: Mas você não acha que mesmo assim, ao se achar melhor do que os outros, ainda que de uma forma mais eloquente, você também se coloca no mesmo patamar de eusismo?

Eu mesmo: Cara, não acho que seja errado, de forma alguma, pronunciar eu; mas os pronomes pessoais do caso reto são seis, e apenas dois deles apontam pra nossa própria direção. Além do mais, não acho que somente eu penso assim, absolutamente. Do contrário, estaria digitando isso de um manicômio.

Eu: Mas e você, como se sente em relação a si mesmo?

Eu mesmo: O maior genocida da humanidade pela manhã, o salvador do mundo a tarde e a crise do oriente médio a noite. Nem sempre nos mesmos horários, alguns nem sempre no mesmo dia.

Eu: E agora, como está se sentindo?

Eu mesmo: Bem melhor. Acho que já posso começar a ficar pior de novo.

Eu: Muito obrigado pela entrevista. Sou seu fã.

Eu mesmo: Eu que agradeço, mas infelizmente não posso fazer o mesmo elogio a você.
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Hoje também tem uma republicação nos Imputáveis.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Minha utopia

Semana passada explodiram nas ruas de Belém grande manifestações de trabalhadores da construção civil reivindicando melhores condições de trabalho (pois só esse ano já morreram 09 trabalhadores nas obras de Belém), além de salários mais dignos¹. Belém é uma das cidades que mais lucram com a construção civil atualmente. Em cada esquina há um prédio sendo levantado, os condomínios horizontais também se proliferam, e enquanto os ricos ganham casa nova e os empreiteiros enriquecem, os trabalhadores continuam na miséria, morando em bairros desestruturados e tendo acesso a péssimos serviços públicos essenciais, como educação, saúde e segurança. Portanto, é claro que eu fiquei emocionado (e frustrado por não ter podido estar somando nas fileiras) ao ver uma multidão vermelha na rua, pois eu sou filho de pedreiro, e sei o que significa a exploração sofrida por essa classe.

As manifestações me fizeram lembrar porque eu sou socialista². Sim, eu sou socialista. E não me tornei socialista depois que li Karl Marx, depois de vestir blusa com rosto do Che Guevara ou quando fui convertido a algum partido político; eu me percebi socialista ainda criança, crescendo numa família cujos pilares eram um pedreiro e uma secretária do lar, vendo meus pais trabalharem mais que todos os meus tios metidos a riquinhos e mesmo assim ganhar menos. Na verdade, na minha infância eu não ganhava mais que um par de tênis por ano, só ganhava roupa nova em dezembro ou quando tinha alguma festa importante (tipo 15 anos, casamento, etc.), nunca fui com meus pais almoçar em restaurante chique ou viajar (se quer) a outro estado a passeio, enfim, não tinha luxo, mas jamais essas limitações foram para mim motivo de insatisfação, pelo contrário, eu tinha minha família, minha casa (ainda que humilde), quintais pra brincar, comida na mesa - ainda que fosse só um ovo frito com farinha, amigos, eu tinha tudo que uma criança precisa de verdade pra ser feliz, mas também tinha tudo o que uma criança pobre precisa pra saber quanto o capitalismo é nefasto.

O que mais me revoltava era a forma como me tratavam só porque eu não tinha o que a televisão dizia que eu tinha que ter, porque minha pele demostrava que eu não comia todas as vitaminas que tinha que comer. E antes de ser discriminado nos lugares que a elite escolhe pra frequentar sem a presença desagradável da ralé que não esteja uniformizada como serviçal (e fui discriminado nesses locais como ainda sou até hoje), eu fui discriminado pela minha própria família. A ala da minha família que era de classe média tratava os filhos dos tios pobres de maneira diferente a que tratava os filhos dos tios "bem de vida"³. Era gritante e revoltante a diferença. Certa vez, quando disse que ia ganhar um videogame, eu tive que ouvir que pra eu ter um videogame eu teria que passar fome por três meses pra isso. Outra vez um primo meu foi esbofeteado por um tio, porque brincava e fazia barulho perto dele, só porque ele também era um primo "da ralé". Foi ali, convivendo com essas violações, que eu fui perceber na prática, que não ter é diretamente proporcional a falta de respeito, e eu não conseguia naturalizar aquilo.

Mais tarde, lendo os teóricos, eu simplesmente fui entender racionalmente o que meu coração já me dizia: Que esse mundo é injusto porque existe gente injusta e outras injustiçadas. Sinceramente, quando eu dedico boa parte do meu tempo a militar, a tentar somar com aqueles que ousam se inconformar com o que está posto, não são as violências que sofri o que mais me motiva a continuar, e sim o sentimento dilacerante que me vem ao peito quando penso que muitas crianças sobrevivem em condições bem mais cruéis do que as que  vivi. O mundo em que vivemos é pior que Esparta, pois quando não matamos a crianças que não servem, a maltratamos até que ela se arrependa de ter nascido. Por isso sou socialista, porque caminhar para nunca mais ver uma criança sofrer me motiva mais do que ficar parado achando que isso nunca vai acontecer.
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1 - O Sindicato das Indústrias da Construção Civil se recusa a dar reajuste de 20% aos trabalhadores mas não  se importa em lucrar mais de 200% em cima do esforço que cada um/a trabalhador/a faz nos canteiros de obras. Os/as trabalhadores/as estão no sétimo dia de greve.
2 - Eu disse que sou socialista, não aquilo que o Stalin dizia que era.
3 - Alguns pequeno-burgueses da minha família são legais.
Hoje eu também estou nos Imputáveis.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu sou católico. Crítico, mas católico

Estive sumido nos últimos dias porque fui à Espanha levando algumas certezas que foram confirmadas, outras reconstruídas, outras destruídas. Foi a minha primeira viagem para a Europa. Fui participar de um evento religioso que, apesar de ser católico, particularmente jamais pretendi ir: a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Minha formação pessoal, militante, intelectual, afetiva, teológica vem basicamente da Pastoral da Juventude (por isso o símbolo da PJ na lateral do blog). Tudo que sou e tenho hoje (inclusive este blog) veio em grande parte da minha experiência com Jesus Cristo atavés do canal PJ, inclusive a criticidade à própria estrutura imperial e feudal que a Igreja oficial emana ainda hoje do Vaticano. Nunca quis ir à JMJ porque considerava, e pude confirmar isso, uma apologia à figura central da Igreja de Roma e do Papa, uma espécie de demarcação nos bunbuns dos fiéis num imenso curral da marca do Papa.

A certeza que tive reconstruída é a de que sou Católico. A palavra "Católico", etimologicamente, refere-se ao todo, ao universal, ao sem fronteiras, ao além deste lugar em que estou. E pude ver isso lá, uma diversidade de idiomas, odores, peles, gestos, cantos, danças, com algo em comum que era a profissão católica e  fé em Jesus, e quase mais nada em comum além disso. A confraternização, o cuidado cada um tinha um pelo outro numa multidão de 1,5 milhão de peregrinos presentes era de conquistar até mesmo o coração mais duro. Era impressionante como tudo ali exalava o perfume mais belo da diversidade humana, do direito sagrado de ser diferente, um perfeito exemplo de universalidade que desmoronava nos atos principais do evento, que eram completamente romanos. Era como se toda aquela diversidade de idiomas que falavam cada qual conforme sua língua materna e ainda sim se entendiam desmoronasse diante de uma língua única, um modelo superior de ser.

Eu tenho mais a dizer sobre tudo isso, mas pra não ser por demais prolixo gostaria de partilhar com vocês uma situação que para mim resumiu o que vivi, do ponto de vista espiritual, na JMJ. Durante a vigília em Quatro Ventos, a mais mal preparada que participei em minha vida de católico, uma amiga da RCC (de um seguimento pentecostal católico) e eu estávamos conversando sobre o que pensamos a respeito do Papa. Eu dizia a ela que imaginava que os homossexuais se sentiam ofendidos com algumas afirmações do Santo Padre, etc. Estava sentado num colchão que estava ao lado do dela. Uma hora ela saiu para falar algo com os amigos a uns metros dali e só me percebi fora do colchão já, a peso de empurrões de um padre, que praticamente me excomungou ali, sem ao menos me perguntar sobre o que de fato falávamos.

Eu sai de casa preparado pra tudo, menos para aquilo. Ali, no meio daquela multidão, naquele cenário forte, que batia forte nos sentidos e sentimentos de cada um, dada a dimensão superlativa daquela multidão, daquele espaço, daquele sacrifício quase vazio de sentido, eu pensei pela primeira vez na vida em sair da Igreja. Parecia que aquelas palavras, aqueles braços, era a Igreja me dizendo que eu não pertencia a ela, que não era querido por ela. Em nenhum momento, nos 15 dias de viagem, senti tanta vontade de voltar pra casa como naquele momento.

Mas logo depois, os padres Fernando, Wellington e Tiago, mesmo sem saber o que tinha me acontecido passaram a me tratar com um carinho diferente. O padre Fernando me ofereceu uma parte do seu colchão pra mim, que não tinha saco de dormir, apenas um lençol mais grosso que levei pra improvisar a dormida. Aí, me voltou à lembrança de porque sou católico, de que eu também sou igreja e toda criticidade que possuo eu aprendi na própria Igreja. Vivi o paradoxo da exclusão e do acolhimento nessa jornada. Voltei de lá mais católico, mas firme na minha fé e arraigado no Jesus Cristo Real, missionário, revolucionário, parceiro dos pobres, Deus dos oprimidos. Voltei para casa, trazendo na bagagem a certeza de onde é o meu lugar e qual a minha missão aqui. A Igreja que é do Papa e é minha também, quanto mais for menos romana, mais será católica.
(quem quiser  ler uma visão militante disto, leia aqui)

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Ideologia da Língua

Gente, a partir de quarta feira eu ficarei ausente por pelo menos 15 dias. Durante esse período deixarei uma postagem programada pro dia dos pais e não poderei visitar meus companheiros de blogsfera no período. Aqui escrevo um texto que a muito queria fazer, mas que não cabe em dois parágrafos. Como vou ficar um tempo longe mesmo, caso não tenham paciência de ler de uma vez, leiam por parte, caso queiram. Fiquem bem, tá?

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"Não há nada mais ideológico do que a língua", comentou um amigo meu, na época estudante de letras na UFPA. Estávamos sob o efeito sagrado do vinho na ocasião, e como a "pauta" não era aquela acabamos falando sobre outras coisas. Mas tal frase ficou na minha cabeça como uma das poucas coisas que minha memória errante (no sentido de errar mesmo) não esqueceu. No primeiro momento, avaliei que isso era o tipo de frase normal (apesar de forte) de quem estava empolgado com o curso ou coisa parecida, mas como bom aspirante a jornalista, procuro ir a fundo de tudo que me provoca curiosidade. E assim fiz.

De fato, cheguei a conclusão de que pode existir algo tão ideológico quanto a língua, mas não encontrei nada mais. A língua oficial é muito mais do que um patrimônio cultural de um país, é um elemento de dominação e imposição ideológica. Temos cerca de 194 países no mundo, e a maior parte destes falam inglês, francês espanhol ou português, e isso só é possível graças a dominação violenta que os países de origem dessas línguas impuseram a países belicamente mais frágeis. Até mesmo nos próprios países, o dialeto oficializado foi imposto como identidade nacional à população que continha várias etnias até a língua ser o que é hoje nesses locais.


Ou vocês acham que na gramática oficial da língua portuguesa nós usaríamos "fato" e não "facto" se o Brasil não fosse politica e economicamente mais importante que Portugal na atualidade? O acordo de países que falam português é mais fraudulento do que o fato da ONU existir pra manter a paz, e só tem servido mesmo aos interesses brasileiros, tanto que o novo acordo ortográfico é praticamente uma imposição do português falado aqui. Querem ver uma coisa? Desafio aqui qualquer um a assistir um filme português falado por portugueses ou ouvir uma música cantada por portugueses sem qualquer legenda e me trazer uma resenha disso em seguida. Não conseguirão. O português falado em nenhum lugar é igual, e em alguns locais a diferença é bem considerável. E é só na Globo que brasileiros do sul falam igual a brasileiros do norte, graças a padronização imposta pela emissora.


Alguém aí estuda idiomas estrangeiros? Sabem que pra eu aprender língua estrangeira eu tenho que conhecer o contexto do país que fala aquela língua, né? Pois é. Até aí tudo bem. Qual é a língua mais falada no mundo? Quais são os idiomas que as pessoas mais procuram aprender? Será que isso tem alguma coisa a ver com ideologia ou é paranoia minha chegar a essa conclusão? Será que a linguagem dos africanos e dos povos originários do território brasileiro também não eram interessantes? A gente aprende inglês só pra conseguir emprego melhor? Será? Ein? Ein? Ein?


Apesar disso, a linguagem, forma autônoma e viva que a humanidade usa pra se comunicar melhor, acaba não ficando presa a fórmulas. A língua portuguesa é patrimônio cultural nosso? Claro que é. Assim como os canhões antigos usados pra matar índios também são. Errar o português oficial é feio? Um tio lá do nordeste que não fala como a gramática diz é feio? Claro que não. Aliás, devo dizer que só falamos o que falamos hoje graças aos "erros" de outrora. Ou alguém acha que falamos hoje "farmácia" e não "pharmácia" porque algum gramático achou legal? Não. escrevemos assim porque a língua muda, e o sistema precisa se adequar a isso pra que continue querendo assumir o controle através dela.


Pra finalizar, gostaria de dizer que o estudo da língua portuguesa vem mudando ultimamente para melhor, mas ainda não houve quem me convencesse de que estudar morfologia e sintaxe na sexta série (e em qualquer lugar que não seja numa academia de linguística) só serve mesmo para satisfazer o sadismo de alguns professores. A gente aprende a falar ouvindo, e aprende a escrever lendo. Não ganharíamos muito mais tempo lendo livros e discutindo em sala o conteúdo deste do que querendo saber onde é a sílaba tônica? Por acaso alguém conta quantos monossílabos há num livro do Marcelo Rubens Paiva? O Brasil fala dezenas de dialetos, centenas de sotaques, milhões de vozes. Sou a favor de que o povo leia, e leia bastante, mas sou radicalmente contra tudo que desrespeite a diversidade e principalmente sou contra a gramática oficial. Querem me ver queimando livro? Me presenteiem com uma gramática do Pasquale, o Adam Smith da língua portuguesa.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Calcinha


Eu gosto de calcinhas. Gosto mesmo. E prefiro as calcinhas cavadas a fio dental, e até mesmo prefiro mulher de calcinha a mulher nua. Gosto do que provoca, do que ameaça, do que fica nas entrelinhas. Gosto de calcinhas que me pedem pra serem tiradas. Gosto mesmo. Mas prefiro as calcinhas feitas para serem arredadas, encostadas numa parede, rodeadas por mini-saias provocantes. Gosto de calcinhas que arredam-se e não atrapalham, não machucam o vem-vai da vida que costuma acontecer em elevadores, quintais, banheiros, árvores, ou onde o proibido rime melhor com a libido. O corpo da mulher é a obra mais linda da natureza, e a calcinha é a obra mais perfeita da humanidade. E os lugares inusitados são o melhor tempero da comida. Calcinha, mulher e aventura: A melhor mistura já inventada. Não é que eu só goste disso, mas eu gosto mais disso, gosto mesmo.

Mulher de calcinha é a definição ambulante de simbiose, da harmonia. Mulher de calcinha torna o termo paraíso um tanto profano, eu diria.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Parede de vidro

Você já se imaginou do outro lado de um vidro, a coisa está lá, você quase sente o cheiro, mas não pode atravessar? Você olha por todos os lados, procura uma porta, uma rachadura, uma fresta que seja, mas não consegue encontrar nada. O vidro tá lá. Tão intacto que nem parece de fato ali. Como é que se sente o que se sente aqui dentro encostar na nossa pele? Como se faz pra essa parede de vidro desmanchar-se nem que seja em lágrimas só pra que eu possa ir até lá? Você já se imaginou do outro lado de uma parede de vidro? Você está lá, mas lá não é suficiente, nem a si, nem a dó. Você já se imaginou do outro lado de uma muralha de vidro? Você olha pra lá, e não vê nada entre vocês, mas há.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

HOMOFOBIA SIM

Como eu sou uma pessoa democrática, que procuro ser acima de tudo justo, eu vou dar aqui oportunidade para pessoas que, como Bolsonaro e Myrian Rios, tem o direito de defender seu ponto de vista enquanto cidadãos e cidadãs. A única coisa que peço é que assistam o vídeo até o fim.


Vídeo indicado por meu amigo, O Iluminado blogueiro Átila.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Postagens Retrô 10 - A Igreja Como ela é

Inspirado na Obra de Nelson Rodrigues, conto aqui histórias que deveriam ser mentirosas, mas não são (editado).




Mocidade


Chegaram praticamente juntos ao Culto da Mocidade. Já se conheciam de vista, mas como chegaram atrasados e ficaram longe de onde estavam sentadas as "panelas" de cada um, começaram a conversar. No início era um papo trivial, até que o olhar de um para o outro passou a ser a comissão de frente de uma porção de alas com fantasias aparentemente exóticas para aquele ambiente. Houve momentos em que um chamou o outro pra falar nada de importante, apenas para não deixar aquele desfile com coreografia improvisada acabar.


Ao fim do culto, descobriram que moravam perto um do outro, então, acabou ele indo para a casa dela. Ela estava só em casa naquela noite. O pai da moça era vigilante e a mãe dela estava viajando. Os dois entraram, e da feita que fecharam o portão estavam num pátio isolado da rua. Na porta da sala, os dois deram continuidade ao desfile iniciado outrora, e apesar da pausa gritante entre a comissão de frente e o carro abre-alas, é possível dizer que não perderam nem um ponto no quisito harmonia. O beijo aconteceu de forma tão envolvente e ao mesmo tempo tão automática que nem um dos dois soube dizer como foi exatamente que chegaram ali.


Ao fim do primeiro beijo, perceberam que cada um ainda estava com a bíblia na mão, e foi dela a iniciativa de colocar as duas bíblias no canto da porta. O segundo beijo, não se sabe se pela atitude anterior dela, ou por qualquer outro motivo, foi bem mais pegado. Ele ficou excitado, e ela, se já não estava, ficou ao sentir a pressão dele. A mão dele desceu até o quadril dela, e com uma força moderada a puxou contra ele, talvez pra fazer ela sentir ainda mais a pressão, ou porque a pressão que ele dava era uma forma de aliviar um pouco da dele. Os dois continuaram se beijando; um beijo cada vez mais ardente, e após a mão dele percorrer toda avenida do corpo dela, a mão dela foi a porta estandarte da noite.


No início ele não entendeu porque ela tentou colocar a mãozinha por dentro de sua cueca, na verdade no início ele achou bem estranho. Ela fez duas tentativas, e na segunda, por instinto, ele percebeu o que ela queria. Ele então encostou seu mundo no dela, ainda que o mundo dela ainda estivesse coberto pelo último manto, o que não os impediu de experimentar uma pequena porção do paraíso. Quando aquilo já estava passando daquilo que ela se permitia fazer naquele momento, ela o afastou, e mentiu dizendo que seu pai estava para chegar. Ele então pegou a sua bíblia (meio contrariado pelo fim, mas muito mais satisfeito pelo caminho percorrido) e saiu pelo portão, dando-lhe um beijo de despedida. Depois ela pegou sua respectiva bíblia e entrou também. Entretanto, talvez eles tenham demorado um pouco mais para voltar ao mundo que conheciam de cor. Palpite meu.


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Hoje é meu dia de estar no blog que é só para quem gosta da coisa (ui). Clique na imagem abaixo e conheça.