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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011, pode entrar!

Eu costumo dizer que as festas do fim de ano não são lá coisas que me alegram muito, nem me deixam lá muito animado pra sair e fazer as coisas que todo mundo costuma fazer por essa época. Mas eu não poderia deixar de dizer a todas as pessoas que me curtem, seja aqueles que me conhecem pessoalmente ou não, que foi ótimo poder viver o ano de 2010 perto de vocês. Seja perto de suas palavras ou perto do calor do vosso abraço, eu me tornei melhor esse ano por causa de vocês. Eu acredito no ser humano. Acredito em todas as pessoas que tem a capacidade de amar e de superar as dificuldades. Acredito na vida que resiste apesar de tudo que se faz contra ela.

Sei que em 2011 as pessoas continuarão agredindo a mãe terra, que a elite mundial continuará promovendo a desigualdade, que continuarão(emos) oprimindo os menos favorecidos, e que continuará sendo uma verdadeira aventura continuar vivendo com bom humor na face da terra, por isso, desejo aos blogueiros que sigo e que me seguem, a todos os meus amigos e amigas, familiares e toda a constelação de pessoas que amo a força para resistir e continuar buscando a plenitude da vida e a felicidade que não seja forjada sob a infelicidade de ninguém.

Bons orgamos aos que fodem!
Boas vigilias aos que oram!
Boas noites aos que dormem!
Bons sonhos ao que ousam!
Bons ventos aos que nele cavalgam!
Boas notas aos que não cansam de ser avaliados!
Bons perdões aos que se enxergam!
Boas festas aos que não deixam que elas acabem nunca!

E Paz a todos e todas que nela creem com todo o fervor de seus atos!
Amém!
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*To de volta!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

No Ramal - Parte 3 de 3

Em muitas noites, quando crianças ou não, quiseram acordar de um pesadelo os dois gaúchos, mas noutros, como no vivido por eles agora, gostariam de não estar acordados, e sim  dormindo sob o manto cosmopolita e subtropical do Rio Grande. Estavam  diante da praga, mas não podiam bater ou correr simplesmente porque não sabiam se poderiam. Devido a iluminação de velas, os outros não poderiam ver o semblante de medo dos dois. Ele lembrou o que havia prometido a ela, mas conforme recordava não era no mesmo dia que se pagavam as dívidas prometidas à Matinta, e sim no dia posterior. E ainda assim, conforme lembra muito bem o gaúcho, seria uma velha a desgraçada a perturbar e não uma nova como aquela.

"Bom, como estamos todos estão apresentados, vamo lá pra beira do rio ver a noite passar, depois, quando tiverem pedindo arrego de tão cansados, vocês dois vão dormir aqui com a nossa anfitriã, pois lá na casa do trapiche não tem mais espaço pra atar rede", disse o amigo paraense aos gaúchos, mas a sulista logo disse da melhor forma como conseguiu disfarçar o desespero que não seria de bom tom eles ficarem lá, pois, pareceriam privilegiados perante os outros. O paraense tentou explicar que a razão, de fato, era a da ordem de chegada mesmo, pois quem chegou primeiro atou lá fora suas redes e, além do mais, a dona da casa odiaria ter de dormir só, e, quando soube da chegada de pessoas de outro estado, foi ela mesma quem pediu para se alojarem dentro da casa mesmo.

"Tá bom, a gente vai ficar aqui mesmo", disse calmamente o gaúcho. A gaúcha arregalou os olhos claros e ficou a imaginar que seu companheiro já estaria sob algum tipo de feitiço quando, percebendo instintivamente como ela o encarava, ele mexeu os lábios enquanto subia as sobrancelhas e disse sem precisar de voz: "CAL-MA". Para tomar aquela decisão, ele começou a imaginar que jamais houve qualquer história comprovada cientificamente. As lendas não eram apenas lendas, e, se aquele grupo já teria ido lá várias vezes e nunca aconteceu nada, ao ponto de sempre voltarem lá ano após ano, não seria só ficando com o cu na mão que entenderia aquele mistério. Depois de breve argumentação, ainda sob discreto protestos da moça, o casal de fora resolveu ficar ali dentro. A parceira conseguiu se acalmar um tantinho com a segurança passada a ela pelas palavras do agora destemido gaúcho. Depois do último "boa noite! Vamos deitar porque já estamos cansados", seguido de "nós vamos brincar de beber um pouco lá fora", agora eram só ele, ela e a Matinta na casa.

Foi tudo muito rápido. A porta bateu. A iluminação em todo o ambiente ficou completamente cinza. Ela se mijou mas não conseguiu se contorcer de vergonha. Os olhos dele arregalaram-se, mas não conseguiu gritar. A Matinta não se movia, mas ao mesmo tempo parecia estar em todos os lados; hora distante, hora encarando-os nariz a nariz, hora era um pássaro, hora era a jovem horripilante. Diferente do que aconteceu na mata, eram eles mesmos quem não se moviam. Tinham vontade de gritar, mas não conseguiam; tinham vontade de sair correndo mas as pernas estavam imóveis; tinham vontade até mesmo de pular no pescoço dela pra ver o que acontecia, mas nem isso. Estavam, acordados, vivendo um pesadelo, e o pior: não havia ninguém ali a não ser eles mesmos. Pior do que sentir o terror e o medo, é não conseguir externar tudo isso. Estavam presos num pesadelo alojado dentro de si.

De repente, tudo o que era cinza, passou a ficar absolutamente escuro. E no breu total, ele recuperou os movimentos. "Eu poderia comer os dois aqui e agora, mas não. Vou comer só essa branquinha aí, só pra ela deixar da pavulagem dela", sussurrou a Matinta ao ouvido do forasteiro. Ele, que havia lido sobre a "lenda" mas jamais leu ou entendeu o porquê de temerem-na tanto, agora não conseguia responder nada. Ele esperava resolver aquilo com a razão, mas não há razão sem experimentação, sem certeza previamente testada, e aquele momento era absoluta e aterradoramente inédito. Mesmo tremendo, só conseguiu foi sussurrar, não porque queria falar baixo mas porque só foi possível emitir aquele tanto de voz: "Tenho como te arranjar tabaco agora". Conseguiu ainda pedir, para a criatura deixá-la em paz e levá-lo no lugar. Mas ela somente começou a assobiar como resposta. Todo o breu começou a ser salpicado por pequenos mas constantes flashes de luz. O assobio aumentava, o vento também, os flashes seguiam o mesmo ritmo, e agora ele é quem gritava, dessa vez com a permissão da Matinta. Súbito os flashes pararam, e ainda com a mesma intensidade de ventania e de assobios, ele viu a boca com dentes encavalados da Matinta crescer, alargar-se, dilatar-se até consumir toda a sua amiga gaúcha. Ele correu pra impedir, mas de repente toda aquela boca escancarada virou-se para ele. Ia engoli-lo...

...

O gaúcho acordou com a gaúcha chorando ao lado dele no mesmo colchonete. "Ela me engoliu", dizia ela com o rosto ensopado de lágrimas. "A mim também", pensava ele tentando consolá-la. Suavam frio. Se abraçaram. Eram por volta das seis da manhã. Depois de um tempo abraçados, passaram a ouvir o som dos punhos de uma rede reclamando por ter de balançar. Era um som constante e semelhante ao de uma porta sem lubrificação abrindo e fechando rapidamente. A garota arredou para trás. O coração dele esfriou de novo. Os dois deitaram e ficaram esperando os outros acordarem. De repente bateram muitas dúvidas nele. Aconteceu mesmo aquilo tudo na noite anterior? Como os amigos não ouviram os gritos? Por que não morreram? Como ele e a amiga lembravam a mesma coisa? Bater nela? matá-la? Fugir dali? "Eu não comi vocês porque não estava com fome, mas não prometam mais tabaco se não têm. Eu  já fumei a maconha que vocês tinham aí e estou bem. Só nunca contem essa história a ninguém, a não ser como se fosse lenda", disse a voz entre entre idas e vindas daquela rede encardida.
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* Antes de mais nada gostaria de dizer que amo gaúchos, conheço vários virtual e pessoalmente, e quando pensei em pessoas para ilustrar este conto, não tive dúvidas em por estes.
** A história é baseada em muitas histórias que ouvi a minha vida toda por aqui, e que, por incrível que pareça, adoraria tê-las vivido eu pessoalmente.
***Meu HD queimou, e estou temporariamente sem PC, por isso demorei a postar, e não tenho visitado vocês. Mas prometo que logo-logo volto a encher o saco de todos de blog em blog.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No Ramal - Parte 2 de 3

Depois do primeiro capítulo...

Quando ele percebeu o assobio aumentar vertiginosamente, ao mesmo tempo em que uma aterradora ventania começou a balançar as folhas, ele quase gritou. Conforme um amigo paraense havia contado e o como ele mesmo já havia lido em livros didáticos, algumas centenas de anos atrás, a Matinta Perera era uma ave que assobiava e assombrava até se transformar em uma velha feia que só a porra; e a monstra só descansava quando o/a perturbado/a em questão prometia tabaco a ela.

Só aí ele percebeu que sua colega de caminhada pelo ramal já estava quase roxa de gritar. Ele teve muita vontade de encher a cara branca dela de tapas, mas seria mais masoquismo do que produtivo, então a abraçou. Nisso, o céu de 18h finalmente desabou dando lugar a uma escuridão total. O assobio parou. A ventania também. Eles ouviram o som de algo pousar, algo pesado, fedorento. De repente, a lua apareceu cheia, mas não iluminava toda a mata. Como um holofote, destacava só aquela criatura, franzina, vestindo um trapo que mal cobria-lhe as pernas magras e o busto. Fedia. Mas não era uma velha, era uma moça.

A gaúcha achou a bruxinha uma coisa horrível. Dentes encavalados apesar de branquinhos, cabelo suplicando por hidratação, unhas sujas, pernas muito tortas, enfim, toda sorte de defeitos que uma mulher consegue achar em outra numa frações de segundo. O gaúcho achou-a tal qual a comida do Ver-o-Peso experimentada naquele mesmo e fatídico dia: meio estranha mas dá pra comer. "Se tu for embora e deixar a gente ir, passa mais tarde lá pra pegar tabaco", disse ele com o cu na mão, lembrando-se da saída sugerida nos livros para aquela situação.

Ocorreu que a jovem Matinta sumiu. Na verdade, nem foi ela quem sumiu, a lua simplesmente deixou de focá-la. Tudo escureceu novamente, e num piscar de olhos, os relógios voltaram ao normal e a lua nova voltou para o lugar de onde não deveria ter saído. Eles se abraçaram. Ela chorava e ele apenas respirava aliviado. Momentos depois eles ouviram vozes. Eram os amigos paraenses que, por já se tratar de mais de dez da noite e sem qualquer contato resolveram verificar se havia algum problema. De fato, havia, mas nenhum dos dois turistas teve força pra contar. "Nos perdemos", justificaram.

Chegaram estourados. A casa onde ficariam era simples. Não dava pra ter muito a dimensão do espaço porque a noite já se ia com muita profundidade. Restou a eles, antes de repousarem, conhecer os anfitriões. "Vamos te apresentar quem está tomando conta da casa. A avó dela, a simpática senhora que sempre nos recebeu aqui já não se encontra entre nós. E esta, gente fina como é, está aqui ao invés de estar viajando a Belém apenas para nos acolher", apresentou o paraense amigo do gaúcho. A anfitriã apareceu lentamente, contra a luz. Os cabelos ressequidos, as unhas, a perna torta. Era ela. Quando os viu, focou toda a sua atenção à gaúcha, e sorriu com os dentes encavalados. A anfitriã era aMatinta. e o cu dos dois voltou a contrair...

Conclui sexta que vem.
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Recebi este selo do meu amigo Antônio Rosa, do maravilhoso blog Cova do Urso.

Como regulamento, para este selo, devo ainda divulgar uma imagem e dizer o que vejo demais nela. A imagem é esta:

Escolhi essa porque representam as coisas com que mais aprendi na última década.

E também recebi da maravilhosa So Sad, de um dos blogs mais originais da blogsfera, chamado 2 + 2 = 5


Gostei muito de receber estes prêmios, mas, quebrando completamente o protocolo por completa falta de jeito pra cumprir a tarefa de escolher entre os blogs que amo, anuncio aqui que esses dois selos são presentes para todos os que sigo e que me seguem. Beijos e Abraços!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

OS 10 FILMES DA DÉCADA

A primeira década do milênio está acabando. Passou rápido, não acham? E nesses períodos é sempre bom revisarmos o que guardaremos no relicário de nossas almas ou no armário das coisas que só não jogamos fora porque não escolhemos ter mal de Alzheimer. Nisso, meu amigo Adison Cesar  do blog ...Lenda Pessoal teve mais uma das suas brilhantes idéias e desafiou a blogueira e jornalista Yorrana Oliveira e eu para junto com ele postarmos a nossa lista de melhores filmes da década. A lista dele, com a qual tenho muita afinidade, já pode ser vista aqui, hoje é a minha vez e amanhã será a vez da Yorrana (não, não somos cavalheiros).

Como não combinamos de fazer exatamente um ranking e sim uma lista, então preferi dividir por categorias que mais gosto, sendo assim...

10 - Adaptação de Obra Literária:
Lavoura Arcaica
Baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, o diretor Luiz Fernando Carvalho fez a melhor adaptação de uma obra literária para as telonas nesta década, na minha modesta opinião. O filme é lindo e tem o melhor roteiro, os melhores diálogos e uma das melhores fotografias desta lista. Além do mais, conta no elenco com Selton Mello, Raul Cortez e Leonardo Medeiros.. ôh!




09 - Ação
Kill Bill
Eu poderia dizer aqui somente que o filme é de Quentin Tarantino e pronto, que já estaria de bom tamanho. Mas devo acrescentar ainda que eu não sou fã de filmes de ação, e o desgraçado desse diretor pegou os elementos mais clichês de um filme de ação, como vingança e violência, misturou a uma puta atriz mais um roteiro digno de Tarantino e deu nisso: dois volumes que quem gosta de filme bem feito no mínimo deve assistir.





08 - Documentário
Fahrenheit - 11 de Setembro
"...nós vivemos em um tempo de ficção. Nós vivemos em um tempo em que resultados fictícios de uma eleição proclamam um presidente fictício. Vivemos em um tempo em que esse homem (Bush) nos leva a uma guerra por razões fictícias...", discursou Michael Moore na premiação do Oscar 2003 quando ganhou a estatueta de melhor documentário. Metade da platéia engomada aplaudiu, outra não, enquanto as tropas estadunidenses invadiam o Iraque. Esse discurso me fez correr pra assistir, e amei. Pra quem não viu, aviso, ou você odiará ou amará.





07 - Independente
As Filhas da Chiquita
Quem pensa que o Círio de Nazaré é a maior festa religiosa do Brasil pode não saber que é também uma das maiores manifestações culturais e democráticas do mundo. Uma celebração sem fronteiras, sendo inclusive pluri-religiosa. Aqui, a ótima cineasta paraense Priscila Brasil conta como a comunidade LGBT participa da festa. Vale a pena conferir aqui.





06 - Adaptação de Heróis das HQs
Batmam, The Dark Knight
Esta década também foi marcada por grandes possibilidades de adaptações dos quadrinhos, setor que carrega muito preconceito ainda, mas autores como Alan Moore e Frank Miller, autores nos quais este filme de Cristopher Nolan se baseou, mostram que HQ também pode ser literatura #defendo. E nesse filme, Heath Ladger (que também arrasa em outro filme da década chamado "A Última Ceia") dá show como o melhor vilão dos quadrinhos na minha opinião, o Coringa, que é demente, e alegra-se com a injustiça, o posto do Batman que também é demente, mas é sisudo para superar qualquer injustiça. O filme e a dupla fazem uma ótima reflexão sobre o bem e o mal.

05 - Romance
Closer, Perto Demais

Se não pelo ótimo roteiro, pelo ótimo elenco e por um filme romântico como só os ingleses sabem fazer, pela trilha sonora, se não viu, não deixe de ver. É ótimo. Abaixo deixo aqui a música da trilha da qual foram feitas versões por Ana Carolina e Seu Jorge & Zelia Duncan e Simone, mas, assim como as músicas da Legião Urbana, nenhuma versão supera a original.



          The Blower's Daughter de Damien Rice
04 - Drama
Crash
Cara... vê isso, se não viu. Eu só posso dizer que na cena que ilustra esta imagem, eu chorei. Chorei muito.É a cena mais emocionante da década pra mim.










03 - Ficção
O Senhor dos Anéis
J.R.R. Tokien escreveu no século passado uma história que tem o nível de "Alice no Pais das Maravilhas", "Peter Pan" e outros, mas com uma riqueza de detalhes impressionante jamais vista. Tanto que o filme de Peter Jackson, que é perfeito, está longe ainda de alcançar a grandiosidade desta obra literária. E este monstrinho aqui na imagem é o melhor ator virtual da década.

02 - Filme fora do eixo Brasil-língua inglesa
O Segredo dos Seus Olhos
Original. Lindo. Lindo. Nem dá pra lembrar da arenga futebolística nesse maravilhoso filme argentino. Oscar de melhor filme estrangeiro foi pouco pra ele (valeu, Prof. Ismael, pela indicação).








01 - O filme da década.
Linha de Passe
Tá, se você me olhar bem sério e perguntar de novo, eu vou ficar sem graça. Não é de fato O MELHOR FILME. Apesar do ótimo Walter Salles ser o diretor, talvez se as pessoas virem o filme não acharão lá tuuuuudo isso. Mas, eu me vi no filme. Não que seja a minha história lá, mas é a história de tudo aquilo que me cercou e que me cerca. Dificuldades e sonhos das periferias. As mazelas, a beleza, os talentos desperdiçados, a invisibilidade perante as elites. Saí da sala de cinema agradecido por ter chegado onde nem cheguei. E quando pensei no filme da década, pensei em minha história que tanto mudou radicalmente neste descabaçar de milênio. Esse filme é no que mais me vi e o que mais vivi nessa década.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Se não pode com eles...

Tá certo. Eu estou errado, vocês estão certos. A partir de hoje:

  • Eu vou casar para fingir ter uma estabilidade familiar enquanto minha esposa e eu brincamos para ver quem trai mais e melhor sem ser descoberto. E vamos ter filhos para a TV e a internet tomarem conta enquanto compramos nossa ausência enchendo os fedelhos de mimos que saciem os fetiches incorporados como vírus pelas babás eletrônicas a quem os confiamos solenemente.
  • Eu vou acreditar num Deus que vai me encher de dinheiro se eu começar a só ouvir canções melosas que falem de Deus, passar a viver numa redoma religiosa cercada de verdade por todos os lados  e passar a só ler passagens bíblicas que justifiquem a maldade e a imbecilidade das pessoas contra quem elas não aceitam. E vou dizer que foi o Espírito Santo que agiu toda vez que eu chorar na catarse montada pelo circo da fé nas igrejas e vou crer plenamente que as esmolas que eu dou aos pobres e as gorgetas que dou aos líderes religiosos caem diretamente na minha conta lá no céu.
  • Eu vou começara votar no cara mais arrumadinho, que fale macio, diga que ama os pobres e que saiba contar as mentiras certas que me motivam sem que eu jamais lembre que existem ideologias e que não é pra promover festas e dar esmolas que os políticos são eleitos.
  • Eu vou acreditar que o trabalho dignifica as pessoas, que o meu chefe é o representante de Deus na terra e é por isso que trabalharei para que ele enriqueça mais enquanto eu continuarei fodido.
  • Eu vou sonhar com a mulher ideal, aquela que saia direto da tela da TV, do cartaz do bar, da parede da oficina ou da minha punheta mais bem batida, e acreditarei que ela vai me amar mesmo pobre e feio assim como eu sou.
  • Eu vou fazer agora só aquilo que me dá dinheiro. Vou transformar minhas amizades em clientelas, ao invés de ser namorado vou ser cafetão e ao invés de amar vou vender; No lugar da familia vou por sócios minoritários e no lugar dos sonhos elaborarei uma planilha com projeções de lucro.
  • Vou ouvir só músicas modinhas, assistir e ler coisas com hemorragias de pobres e vestir só, somente só aquilo que algum estilista leso lá da casa do caralho diga que é pra eu vestir.
  • Vou dar porrada no meu filho se o vir andando com um gay, dizer que macumba é coisa do demónio e que espiritismo é coisa de Deus, que homem pode ficar porre mas mulher não pode porque é feio e que em Belém só tem índio e que a gente usa jacaré como transporte alternativo reiteranto sempre e em todo momento QUE EU NÃO TENHO PRECONCEITO!

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Eu postaria hoje a segunda parte de No Ramal, mas esta postagem já estava programada a um tempinho e eu não lembrava; sexta feira que vem trarei a continuação.