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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

No Ramal - Parte 1 de 3

A vontade de chegar logo quase cegou os olhos do casal para a estonteante vista da baía do Guajará e o belo por do sol que havia como decoração. Cruzaram numa embarcação diferente, apelidada pelos moradores de Belém de "pô-pô-pô" devido o barulho típico do motor. No início da viagem, inclusive, entenderam logo o porquê do apelido, mas só notaram mesmo o quão barulhenta foi a viagem quando o motor foi desligado, tamanho o alívio para os tímpanos. Após desembarcarem, um ônibus os aguardava próximo ao porto com destino a uma pequena comunidade ribeirinha que despertava o interesse dos dois pelo fato de lá não haver energia elétrica, televisão, e/ou apetrechos "urbanizantes" do tipo. E para quem veio de Porto Alegre passar as férias na Amazônia pelo exotismo, aquele programa os excitava e muito.

Desceram num ramal*, só os dois. Já estava quase na hora das 18 quando sentiram um estranho frio no espinhaço. Um olhou para o outro, e sem falar nada continuaram. 18h em ponto o relógio dele apitou. A hora do remédio teria de esperar um pouco até chegarem ao alojamento. Pelo caminho, só mata os acompanhava de ambos os lados. Durante a andança reparavam que as árvores maiores ficavam  mais ao extremo nos flancos enquanto uma vegetação densa, fechada e aparentemente homogênea faziam uma espécie de muro verde para caminhos brancos encardidos e paralelos, entrepostos por uma espécie de pentelho verde demarcando nitidamente um caminho forjado por pneus. Ela, decoradora, se encantou por um tronco à beira do caminho, pois poderia servir de encantadora mobília para uma casa naquela região equatorial. Depois de andarem bastante, ele resolveu ver quanto tempo já haviam caminhado. Para a surpresa dele, ainda eram 18h. E, mesmo sabendo que o celular estava sem rede, resolveu confirmar a hora. Para o espanto dele, também eram 18h ainda. Ela também olha a hora no celular: 18:00. Frio na barriga. Nas duas.

Uma angústia começou a sambar no peito dos dois. Agudo. Um grito. Uma árvore. Uma possível mobília. A mesma árvore por onde haviam passado estava novamente diante deles. O que era virtualmente impossível até mesmo porque eles estavam caminhando a quase meia hora numa linha reta. Era improvável terem voltado. Eles, desesperados, sem combinar nada um com o outro resolveram correr. E correram. E correram. Correram por um caminho melancolicamente familiar, e novamente chegaram à mesma árvore. Ela começou a gritar. Ele, psicanalista mais ou menos experiente, teve vontade de bater na cara dela mas preferiu pedir calma. Ele precisava pensar. Ela precisava gritar.

Nesse momento, ele lembrou do que o amigo paraense havia falado a respeito dos ramais daquela região. "Como vocês são sulistas é melhor virem no barco das 16h, porque assim vocês caminharão no fim da tarde e não tostarão. Só tomem cuidado pra não entrarem depois das 18h, porque a mata se fecha", recomendou o amigo em tom de brincadeira, avisando ainda que depois das seis da tarde os guias da mata não gostam de visitas sem autorização. Naquele caminho fechado e transbordando de desespero, ele parou, e quando ela chorando gritava para ele falar alguma coisa o gaúcho notou um assobio agudo de uma ave e cada vez mais crescente. "Puta que pariu, agora todas as lendas da Amazônia resolveram sair dos livros didáticos?", pensou ele. Na mata (fechada), o choro, o desespero e a agora a Matinta Perera.

Continua na próxima sexta-feira.
_______________________
* Ramais são caminhos quilométricos que ligam pequenas comunidades, ribeirinhas ou não, a estradas viscinais.

16 comentários:

Daniel Savio disse...

Estranho, caso paranormais tem uma origem diversa, mas sempre tem uma lenda que explica o motivo do caso...

Fique com Deus, menino Eraldo.
Um abraço.

Rick disse...

Caraleooooooooo!
Que texto intrigante!
Puta que o pariu, como você é detalhista!
Perfeito!
Vê se manda logo a continuação!

Abraços!!!!!

Valéria lima disse...

Nossa, me embrenhei nessa mata também. De um certo desespero constatar que eles ficaram perdidos.

BeijooO'

kriiss disse...

ansiosa p ver a continuação!
perfeito o texto
um grande beijo

Luna Sanchez disse...

Opa, gostei que me lambuzei! Já quero mais, quero mais!

\o/

Beijos, lindão!

ℓυηα

Jamylle Bezerra disse...

Dá pra imaginar cada detalhe da "saga"! Quais serão as cenas dos próximos capítulos???

C-U-R-I-O-S-A

Bom fds!!!!

Anônimo disse...

Nossa!!! Envolvente demais!!

Menino, vc não perde detalhes!!!!

Beijos.....

2edoissao5 disse...

isso nunca aconteceria comigo, pq jamais entraria na selva a noite, rs
beijo!

Priscilla Marfori... disse...

Oi querido, muito boa sua visita e passar por aqui melhor ainda...
Hoje postagem somente no: http://fleshspriscillamarfori.blogspot.com/
B-Jos. doces para você e sorrisos para seu dia!
=)
Até mais ler Eraldo...

Nini C . disse...

Putz, isso daria um ótimo filme... Muito bom, de verdade. Beijo.

Batom e poesias disse...

Ai que medo...

Já disse que você é ótimo cronista e novelista?

Bjcas
Rossana

[Ananda] disse...

o.O tenho saudade de andar no barquinho pô-pô-pô nas férias,dias felizes a minha sorte foi que nunca consegui essa proeza de me perder em algum lugar assim.
Bom,continua a história tá bem legal emocionante,nossa q malzinho vc foi com os dois.xD

Alline disse...

Ai, Eraldo, fiquei aflita, também quis sair, gritar, me livrar daquela mata.

Volto pra ler mais na sexta que vem.

Beijo!

Eraldo Paulino disse...

Daniel: Também achei mui estranho meu caro... rs abs!

Rick: Caraaaaleooooo.. valeu véio. abs!

Valéria: Né que dá medo? rss bjs!

Kelly: Eu também. bjocas!

Luna: O que você pede que eu não faço? bjs!

Jamylle: Eu também! Bjs!

Suzana: Pensa que é só mulher que tem esse dom? rs bjs!

Antônio: Muito obrigado. Passo já lá!

So Sad: Nunca diga nunca rsrs bjs!

Priscila: Você é sempre linda! bjs!

Nini C: E num é? E acho que não assistiria. Geralmente eu não assisto filmes assim porque tenho medo rs bjs!

Rossana: Assim você vai fazer eu gamar de verdade. bjs no batom!

Ananda: É sempre ótimo ter você por aqui. bjs!

Alline: Eu também fiquei aflito quando escrevi. Que bom que partilhou isso comigo. rs bjs!

Renata disse...

Parabéns pelo texto.
Fiquei ainda com mais saudade de Belém!

Beijos

Léo Santos disse...

Interessantíssimo! Tu é mal heim, guri, por que fazes essa maldade justo aos porto alegrenses? Vou ler a continuação, tomara que as coisas melhorem!

Um abraço!