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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Titãs e Paralamas em Belém - Foi bom pra você também?

Paralamas e Titãs fizeram um show previsível em Belém na última sexta-feira. Durante o show, entre um hit e outro eu notava alguns clichês: a mesma turminha de todos os grandes shows do rock nacional, o público xiita do rock diminuindo, anúncios de shows de axé e música romântica/ brega cada vez menos vaiados, público que não entende patavina de rock empolgado a beça, essas coisas. Eu me perguntava se haveria gritinhos ao primeiro acorde caso os Paralamas levassem “Bora Bora”, se a execução de “Dívidas” pelos Titãs poderia provocar uma reação no público maior que a indiferença, etc. Depois eu cheguei à conclusão que ouvi Legião* demais, e que se o show não fosse previsível não estaria tão lotado.


Vivemos numa sociedade preguiçosa, em que prega-se a divindade do trabalho, mas paradoxalmente se produz tecnologia e riqueza para potencializar o ócio nosso de cada dia. Nesse bojo, uma das coisas que nos convidam a não termos trabalho é o de pensar, descobrir coisas novas. No fim das contas, acabam nos empurrando goela abaixo gostos que não precisamos nos dar ao trabalho de desenvolver. Por isso é bem melhor a comodidade dos hits impostos do que se preocupar em ouvir um álbum todo, discutir seu conceito, ruminar sua mensagem, etc. E o rock nacional aprendeu que o segredo para continuar existindo é fazer o mesmo cara que canta “hoje é festa lá no meu apê/ vai rolar bunda lê lê” cantar também “Vamos celebrar como idiotas/ a cada fevereiro e feriado”. Isso às vezes estressa.


Aliás, é isso o que me torna eterno admirador dessas duas bandas que se apresentaram sexta com um equipamento sonoro de qualidade duvidosa a um público hegemonicamente démodé. Elas é que construíram seu lugar no mainstream, ao contribuir para a consolidação do rock brasileiro como uma forma de arte autêntica e um negócio rentável. Paralamas e Titãs fizeram sucesso gritando palavrão em refrões e tocando guitarrada ao invés de bossa-nova, subvertendo a lógica estabelecida de então. É claro que hoje eles são a lógica estabelecida, mas como diriam meus amados titânicos, nem sempre se pode ser Deus**.


As pessoas foram ao Cidade Folia mesmo pra ouvir hits. Eu fui lá por isso também, afinal, canções como “Cabeça Dinossauro”, “Lanterna dos Afogados”, “Alagados” e “Flores” não são qualquer porcaria. Vale realmente a pena dar e receber cotoveladas, caneladas e empurrões em rodas Punks ao som de “Polícia” e “Meu Erro”. É magnífica a sensação de mandar oncinhas, zebrinhas e coelhinhos se fuderem aos berros. É sensacional saudar a brasilidade da gostosa “Lorinha Bombril”. Vários adormeceram sexta à noite numa catarse de deixar qualquer grego invejoso, mas alguns poucos porretas saíram de lá com os olhos mais abertos***, graças ao Diabo que é o pai do rock****.


Paralamas do Sucesso e Titãs fizeram um show previsível sexta-feira, 25/09 no Cidade Folia. Todo mundo aguardava pelos hits. Todo mundo esperava que fosse ótimo. Todo mundo saiu de lá satisfeito. Até eu, com a minha chatice típica dos pretensiosos roqueiros, saí de lá extasiado. Os hits são uma conquista dos artistas, seu maior patrimônio, e seria muita filhadaputisse não tocá-los só pra amaciar o ego de caras chatos como eu. Se não fossem pelos hits eu dificilmente os conheceria, e se não fosse pelo público por mim aqui avacalhado, eles dificilmente viriam a Belém. Por isso, obrigado público alienado de Belém, tomara que vocês adorem tomar no cu, ir pra casa do caralho, ou se fuderem, que são as coisas que mais desejo a vocês, com todo carinho*****.

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* Só quem ouviu muito a Legião Urbana pra ter crise existencial nesse tipo de show.

** “Nem sempre se pode ser Deus” é uma das minhas canções prediletas, solada por Branco Melo, Titã que mais me afino, d’um dos meus álbuns prediletos: Titanomaquia

*** Parafraseando Drumond, que outrora disse: "Preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças".

**** Descoberta feita por Raul Seixas e Paulo Coelho na canção Rock do Diabo.

***** Respeito e Rock nunca se deram muito bem.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Salário do judiciário é de outro universo

Era uma vez, em um lugar muito distante, havia um universo iluminado por sóis finitos, e num dado universo havia um pequeno povoado de planetas ao redor de um sol de quinta, dos quais um era o predileto de um Deus meio confuso que gosta de testar suas criaturas, chamado Javé. Nesse planeta há muitas diferenças. Há muita pobreza e muita riqueza, e contra toda a pobreza existe a riqueza e contra toda a riqueza não há quase nada.

Nesse planeta há um país com brasa, suor e muita dor. Nele há uma grande população que aprendeu a maquiar suas dores com máscaras de palhaços e que sorriem alto pra não ouvirem seus gritos de desespero interiores.

Lá há uma forma diferente de império em que não há somente um Senhor, e sim alguns imperadores que repartem a estrutura do poder entre eles e chamam seus vassalos de povo. Conseguem se manter no poder com apoio dos próprios vassalos, que colocam seus imperadores no poder. Com esse engodo se sentem ingenuamente no poder também, mas não usufruem das muitas riquezas do Reino. Ao contrário, são vassalos que recebem migalhas periódicas e caixas de maquiagem pra palhaço em domicílio gratuita e diariamente.

Os imperadores desse Reino dividem-se na tarefa de estabelecer, executar e julgar as regras. Quem executa precisa de quem propõe e esses dois precisam de quem julga, porque as regras que estipulam e/ou executam não são cumpridas por quase nem um desses imperadores, por isso precisam fazer agrados para a última linha do império, que é quem julga as leis.

Os julgadores das leis, inclusive, não são escolhidos pelos vassalos e sim por quem executa, e nessa sacanagem que recebe o nome de república, os juízes tem que ganhar melhor, porque estudaram pra livrar seus colegas imperadores das frias.

Recentemente esses juízes ganharam um aumento que os vassalos nunca podem receber, pra não quebrar o tesouro do império, mas para os julgadores há de se dar um jeito sempre. Pra que os julgadores não precisem ser justos, e para que quem executa e decide as leis continuem obedecendo apenas suas próprias regras, essa palhaçada apelidada de democracia precisa continuar sendo engraçada aos vassalos. E quando ela deixar de ser engraçada, os juízes estarão lá para sempre defender as engrenagens do Império e condenar a vassalagem.

Como seria viver num lugar desses?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

HOMOFOBIA É PECADO




A homofobia é uma vila cheia de vizinhos casados, em que aquela mulher fofoqueira consegue se achar melhor do que a “colega” do kit-net ao lado porque transa com seu marido sem fazer tanto barulho ou sem gemer descaradamente seu prazer. A homofobia é a forma com que uma porção de cabeças duras se baseiam no senso comum equivocado para externalizar suas debilidades humanas. A homofobia fere, destrói, e parte de covardes. A homofobia é cruel. A homofobia é nojenta. A homofobia é pecado.

O preconceito contra gays, lésbicas, bissexuais e travestis, no ocidente, baseia-se numa concepção fundamentalista do cristianismo. A base dos cristãos-homofóbicos parte basicamente de algumas máximas típicas. Entretanto, se Deus disse “crescei e multiplica-vos”, e por isso é uma aberração haver um casal gay, então um casal formado por homem e mulher estéreis é também cruel? Se um casal transa sem objetivo de ter filho ele está cometendo pecado? Na bíblia, livros como o de Levítico e as Epístolas paulinas condenam a homossexualidade, mas o livro do Levítico também diz que mulher menstruada é impura e deve ser afastada da sociedade (Lv 15) e Paulo declara que mulher não pode se manifestar publicamente sem o consentimento do marido (I Cor 34 s). Portanto, o mesmo preconceito que possibilita essas proposições machistas, também provoca tais condenações homofóbicas. A base bíblica desses preconceituosos travestidos de cristãos é tão sólida quanto um pudim estragado, e, como diria Ruben Alves, para as pessoas de bem, toda lei deve ser submetida ao bom senso.

Outro argumento muito usado por homofóbicos é que a homossexualidade e a bissexualidade são uma mera escolha. Quem é que escolhe se achincalhado publicamente pelas pessoas que mais ama e por pessoas que nem conhece? Qual o indivíduo que chegando a certa idade escolheu ser vítima das garras cruéis de uma sociedade padronizadora? Se fosse uma mera questão de escolha, quantos padres não escolheriam deixar de ser gays? Quantas freiras não escolheriam deixar de ser lésbicas? Quantos filhos machos de pastores da vida não escolheriam deixar de sentir aquele formigamento quando chegam perto do seu homem desejado? Perguntem pra quem está no grupo LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis) se o que sentem não faz parte deles tanto quanto faz parte deles o desejo de amar e serem amados e amadas.

Algum tempo atrás, era comum uma pessoa branca entender que as pessoas negras são inferiores. Hoje em dia também é, mas existe uma reflexão bastante avançada sobre essa questão que força o indivíduo a, ao menos, ter receio de escancarar seu racismo. O mesmo processo, espero, acontecerá com os homossexuais. Só que com os homossexuais reside um problema ainda maior, porque uma mulher branca pode escolher um marido branco pra não ter um filho negro. Mas ninguém pode impedir que seu filho nasça gay, e essa imprevisibilidade é aterradora para pessoas acomodadas intelectualmente.
Ter receio do que é diferente e reagir com preconceito é intrínseco aos seres humanos. Eu mesmo, quando percebi que minha irmã era lésbica, uma das criaturas que mais amo no mundo, fiquei apavorado. Naquele momento entendi que ela estava sendo abduzida por lésbica perversas. Logo a minha irmã que sempre foi bem mais esperta que eu. Hoje, graças a espiritualidade conciliada com a racionalidade, ao bom senso, e a vontade de não ser medíocre, eu continuo amando e admirando a minha irmã como se nada demais tivesse acontecido, porque de fato não aconteceu.

O Apóstolo Paulo declarou que o amor é o dom supremo de Deus. Podemos fazer tudo, mas se não tivermos amor, nada seremos. Então devemos forçar um homem gay a casar com uma mulher, mesmo sabendo que ele jamais amará de verdade sua esposa? Se nascer com uma lésbica o desejo de amar uma mulher isso não é um dom divino? Existe forma perversa de amar? Um homem pode ser caridoso, ter fé, ter esperança, como diria Paulo, mas sem amor nada disso vale, porque a única coisa que só brota de Deus é o amor. Se um homem ama um homem, se uma mulher ama uma mulher, esse amor é sublime, puro, e honroso, porque tudo que vem de Deus assim o é. Deus é amor, e amor só dele brota. Agora, principalmente para os crentes e as crentes eu pergunto, de onde brota o preconceito? De onde brota a vontade de oprimir? De onde brota a crueldade? É de Deus?

Bem aventurados os Gays, as Lésbicas, os Bissexuais e os Travestis, porque vocês são esmagados pelas igrejas dos homens, mas no Reino de Deus serão livres.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

*Meu sangue é latino, minh'alma não é cativa!

O Brasil é uma pátria mal parida que desde a sua concepção semeia injustiças e rega as suas terras férteis com sangue dos oprimidos. O resultado disso são lutas de classes, em que de uma grande maioria excluída, alguns rompem a barreira da mera indignação e se organizam para reivindicarem seus direitos. Os movimentos sociais nesse contexto são mais do que uma escolha pura e simples, eles existem por uma questão de sobrevivência de pessoas que simplesmente não conseguem se calar diante das injustiças.

A nossa história começa com o extermínio dos povos nativos, que mais tarde foram rotulados de índios. Africanos e africanas foram arrancados de suas terras para serem vilipendiados e maltratados durante séculos para depois serem livrados do cárcere sem condições plenas para se libertarem do chicote do racismo. Desde o processo de colonização, muitas terras foram entregues na mão de poucos, realidade que até hoje não mudou, gerando violência no campo, êxodo rural e o consequente caos urbano. Esses e outros são exemplos na história de uma nação que cresceu esmagando seu povo.

Se antes bastou o poder bélico dos portugueses para chacinar milhões de índios, se outrora bastou o tronco para intimidar os escravos, se bastou antes qualquer documento grilado para excluir milhões de famílias de suas terras, hoje, com a maquiagem de democracia sobre nossa república, também existem outros mecanismos para silenciar os que sofrem. Grandes jornais dão ótima repercussão a lobos travestidos de cordeiros, e ao mesmo tempo mostram os excluídos passando por criminosos, pessoas famintas passando por abutres, militantes transformados em inimigos públicos. A estratégia é criminalizar os movimentos sociais.

Os movimentos sociais tem como base teórica o conhecimento que as ciências humanas dispõem. Os direitos que reivindicam estão muitas vezes estampados na Constituição. Como as elites sabem que a causa dos movimentos é justa, usam a força estatal e o terrorismo midiático para silenciá-los. É necessário que pessoas de bom caráter não só saibam o que de fato acontece entre uma palavra de ordem e uma bomba e gás lacrimogêneo, mas disseminem o conhecimento crítico. É preciso divulgar o outro lado da história através de blogs, twiter e sites afins, porque criminalizar os movimentos é condenar milhões de excluídos ao silêncio de morte. E somente com justiça se alcança a paz.
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* Conhece Secos e Molhados? Não?! então corre porque você está atrasado/a!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Paralamas, Titãs e... Legião?!



Da cena oitentista, três bandas conseguiram sobreviver à década, produzindo coisas novas e tendo uma certa relevância. Na próxima sexta-feira, Belém assistirá um show com duas dessas bandas, Paralamas e Titãs, mas poderia muito bem ser um show com três bandas: Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso, porque aí ficaria perfeito.


As três bandas representam as cenas dos maiores centros do Rock Nacional, ém nível de repercussão. Não ousaria dizer que estas são as melhores bandas nacionais da década de oitenta, mesmo porque eu não conheço todas elas, mas no ponto de vista do mercado, do reconhecimento de público e Crítica, ao fim dos anos oitenta essas eram, por exemplo, as únicas que conseguiram consolidar suas carreiras com pilares mais firmes - shows lotados, álbuns com altas vendagens e sucesso de crítica.


Os Paralamas do Sucesso, ainda que tenha sua origem também em Brasília, porque foi lá que Herbert (guitarra e voz) e Bi (Baixo) viveram maior parte de sua juventude, pode ser considerada uma banda carioca. A banda se criou no Circo Voador, templo do Rock Carioca e na Fluminense FM, maior divulgadora de bandas emergentes de rock no início da década de 80. Legião Urbana é a maior representante do Rock brasiliense. Titãs, a que melhor representa a falta de origem com origem em tudo dos paulistas¹.


Ainda que elas representem também o quase total confinamento do mercado pop ao eixo sul-sudeste, elas representam muito bem tudo o que a primeira geração de jovens pós-modernos brasileiros tinham em mente naquela época, mas não falam a mesma linguagem da juventude de hoje. Mesmo que Renato Russo estivesse vivo, provavelmente quase ninguém mais daria tanta bola a suas profecias. Não que jovens de hoje, como eu, não possam gostar das mensagens destas bandas, mas não é o que a maioria quer ouvir em canções, o que é absolutamente normal acontecer. Sem mudança não há Rock.


Renato Russo, considerado a enciclopedia do Pop-Rock de sua geração, chegou a declarar que as três bandas só conseguiram sobreviver ao imediatismo do mercado pop e terem certa relevância ainda na década de 90² porque aprenderam muito bem como o jogo funciona. "A gente era roqueiro mas era tudo formado", acrescenta. Esse conhecimento do mundo pop não tiveram muitos críticos e público, infelizmente. Ao invés de verem um bando de garotos geniais querendo ganhar dinheiro mostrando sua arte, viam neles semi-deuses, arautos do comunismo, profetas da verdade, etc.


Quando os Titãs lançaram os sujos "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" e "Titanomaquia", por exemplo, lançaram pra fugir da super-exposição. Fazer experimentações. Foram ovacionados pelo público Hard Core, e detestados por grande parte do público, digamos, senso comum. Depois, quando voltaram a lançar um disco popular e seus derivados (Acústico, volume 2 e As Dez Mais) foram acusados de serem vendidos. Putz! Vendida uma banda que começou sua carreira dançando musicas alegrinhas no Chacrinha?! Eles sempre quiseram se vender. Mais tarde a banda ironizou essa perspectiva superficial do mercado pop por grande parte do público e crítica na canção "A melhor banda de todos os tempos da última semana". Foi uma resposta tão inteligente quanto a dada no "Cabeça Dinossauro", na minha opinião. Mas dessa vez a crítica foi pra nós e não ao sistema, e eles inteligentemente fizeram muita gente cantar sua própria idiotice.


Algo parecido acontece com os Paralamas, que a excessão dos sucessivos discos ao vivo (regra do mercado atual) e do disco "Longo Caminho", lançam um material mais voltado pro seu gosto artístico, sem a pretensão de querer provar nada pra ninguém, semelhante ao que fez Paul McCartney quando saiu dos Beatles e foi fazer shows mais intimistas em universidades. O álbum acústico deles é um exemplo disso, em que eles evitaram os hits óbvios. Por isso são tidos como banda ultrapassada, porque não conseguem vender como na década de oitenta. Coisa de desavisado. Com a Legião o mesmo não acontece porque Renato Russo morreu, e nesse país quem morre vira santo instantaneamente. Como diria o ex-VJ da MTV, Gastão, com a morte Renato teve sua obra superextimada, e sua relevância, que não precisava dessa "ajuda", não seria a mesma se ele estivesse vivo.


As três bandas garimparam um lugar pro rock no gosto do brasileiro com muita luta. Hoje em dia, se existem bandas de rock que tocam rock no Brasil, é muito graças a essa geração, muito bem representada por essas três autarquias sonoras. Eles provaram que isso é possível. A geração que construiu o mercado pop é tragada agora pelo próprio. Que os imediatistas e os ressentidos continuem no senso comum, criticando a partir do hoje. Eu prefiro entender que o mercado é pra vender, e que pessoas inteligentes podem nos dar coisas boas pra ouvir na grande mídia, sem necessariamente serem pretenciosos independentes que na maioria só não se vendem porque não tem quem compre³.


Chamar essas bandas de medíocres hoje porque elas não estão liderando as paradas de sucesso ou lançando discos conceituais todo ano é o mesmo que dizer ao Prince que ele não presta porque a hoje em dia quem tem swing é o Justin Timberlake. Seria o mesmo que dizer ao Mick Jagger que ele está ultrapassado, porque hoje em dia quem é malvado na música é o 50 Cent. Seria o mesmo que dizer ao velho Sir Paul que a banda Keane é melhor que ele porque estão lançando coisas novas e bacanas e ele não.

Por isso, seria muito bom ver no Palco as três bandas juntas, Paralamas, Titãs, e Legião... Vítimas e Heróis do (emergente ainda) mundo Pop brasileiro. As melhores bandas de todos os tempos em mais semanas que muitas melhores bandas de todos os tempos que só duram um verão, ou uma cachaça. 25 anos que tornaram possível chamar uma banda de escrota com propriedade no Brasil serão celebrados na sexta aqui em Belém... só vai faltar a Legião.
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¹Algo obviamente muito melhor dito pelos Titãs na Canção "Lugar Nenhum" (A. Antunes/ M. Fromer/ S. Britto/ T. Belotto/ C. Gavin).
²Entrevista concedida ao jornalista Marcelo Froes e pode ser ouvida em faixas do CD "Renato Russo Presente", produzido pelo próprio jornalista.
³ As melhores coisas pra se ouvir na música brasileira estão no mercado alternativo. As piores também.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Galos, Noites e Quintais - Aventura 1

NO TEU SEIO, Ó LIBERDADE!


Nos anos setenta, Belchior versava a extinção de galos, noites e quintais dos centros urbanos. Mas no bairro da Guanabara, no Município de Ananindeua, esses versos melancólicos do cearense não faziam o menor sentido no fim da década de oitenta. Na região que hoje é o limite de Belém, e não mais área de Ananindeua, graças aos olhos grandes do então Prefeito Helio Gueiros sobre os impostos do shopping, vivi intensamente tudo o que galos, noites e quintais podem oferecer para as aventuras de uma criança.

Foi pra esse bairro que minha família se mudou fugindo dos igapós da Sacramenta, área que hoje está completamente revitalizada graças ao projeto da Macro-drenagem. Naquela época, há vinte anos atrás mais ou menos, as chuvas eram sinônimo de alagamento, cobras passeando pelas casas, móveis suspensos às pressas, etc.. Isso sem contar os mergulhos acidentais que as crianças faziam nos igapós quando uma tábua das palafitas quebrava de podre sob pés inocentes, ou mesmo quando as pestinhas se desequilibravam e caíam, como foi o meu caso algumas vezes (Acode o moleque!).

Nos mudamos para a Guanabara graças a generosidade de um tio meu que possuía um terreno nesse bairro, e como o terreno era bastante grande – de fundo a fundo - poderia repartir com o irmão pedreiro que era casado com uma Secretária do Lar – é chique como chama empregadas domésticas hoje em dia né? Minha mãe relutou antes de aceitar a oferta tentadora de um terreno num lugar seco, pois a casa que ela tinha podia ser de madeira, em cima da ponte, mas era dela, foi comprada por ela e meu pai depois de muito suor, por isso tinha receiro de se mudar e depois algum herdeiro ganancioso vir querer tomar a casa. Mas meu tio, reconhecidamente um dos mais parlamentares da família, conseguiu ser convincente. Papai construiu a casa em menos de um mês. Nos mudamos para a Guanabara.

Guanabara era considerada pelos meus familiares que viviam e vivem quase todos na Sacramenta, um lugar muito distante. Manifestavam essa preocupação não pela distancia geográfica em si, mas porque naquela época não tinha nada pra cá. A cidade de Belém acabava no entroncamento, e pra Ananindeua nem muito coletivo havia. Lojas grandes então, nem pensar. Não havia nem sonho de Shopping Center, e a Guanabara, assim como muitos bairros de Ananindeua pareciam interior mesmo. Com muito mato, casas simples, e totalmente dependentes do centro de Belém para ter acesso a serviços como hospitais, escolas de qualidade, etc. Hoje há casas próximas a minha que são vendidas até por R$ 140.000,00.

Belém estava em processo de expansão demográfica, apesar da crise econômica que o Brasil vivia na década de oitenta. Em pleno engodo do Plano Cruzado e as conseqüências econômicas da agiotagem internacional corroendo o Brasil - graças a abertura de bunda que os militares fizeram quando bagunçaram o Brasil por "medo" dos comunistas - muitos interioranos do Pará, ou pessoas do interior do Ceará e do Maranhão, se mudaram para área aonde fomos, assim como ocorria em quase toda Ananindeua e Marituba, e hoje acontece com maior freqüência em Benevides. Terras baratas, nem tão longe assim da cidade, pessoas sedentas por empregos que não existiam no campo, ocupações apadrinhadas pelo populismo de Jader, e bingo! Crescimento urbano desordenado no melhor estilo América Latina.

Mudança triste a nossa. Meu irmão, que já tinha nove anos na ocasião, possuía já seu melhor amigo e tantos outros coleguinhas, e minha mãe era uma reconhecida líder comunitária. No natal, era ela o braço direito da Ir. Ester para arrecadar brinquedos para a criançada, e foi ela a escolhida pela comunidade para reunir com o então Governador Jader Barbalho e pedir água encanada pra comunidade. Semanas depois a COSANPA instalaria a tubulação. Viva a D. Fátima! Quando fomos embora, deixamos um buraco que fica em toda comunidade unida, como era o caso da nossa.

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Quando eu sentei frente a frente com Helder Barbalho, pra uma articulação da Associação dos Moradores a qual presidi, eu lembrei do episódio de minha mãe com Jader Pai. Coincidência ou Hereditariedade? Não sei, mas sei que era filho e filho em papeis semelhantes aos vividos pelos pais décadas antes.

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Já na nossa nova morada seca, em casa de alvenaria, meus dois irmãos e eu passávamos a vida divididos entre ir à escola e brincar em casa. Quase não saíamos para a rua, com exceção do meu irmão mais velho, a nova sensação das meninas no bairo novo. Minha irmã, um ano mais velha que eu, convivia comigo no ambiente caseiro, reparados por “ajudantes” – eufemismo para empregada que ajuda famílias menos pobres que as suas em troca de roupa, almoço, janta e lugar pra dormir. Íamos pra rua muito esporadicamente logo no início.

Aliás, essa história de ter meninas reparando a gente era formidável pra mim. Vez ou outra havia uma pedófila que me agarrava. Se hoje em dia tem gente que me considera tarado, culpem essas deliciosas ajudantes que exploraram minha sexualidade precocemente – firme! Uma delas, Al, morava na outra rua, e como era da confiança da mamãe, abriu as portas para a fase mais feliz de minha vida, com a galerinha. Aventuras que contarei em outro momento. Antes, há uma outra porta que Al me ajudou a abrir que quero partilhar.

Al era mais uma das meninas que ficaram apaixonadas pelo meu irmão-carne-nova. Ela era baixinha, sem muita bunda, mas tinha sorriso farto. Com um olhar muito bonito, seus olhos castanhos claros manifestavam bem o misto de cinismo e espirituosidade que lhe eram abundantes. Todo mundo em casa adorava a Al. Eu adorava os seios da Al.

Certa feita, D. Fátima precisou pagar a luz. Eu estava dormindo no tatame dela e do papai. Vez ou outra eu corria pra lá, quando me dava medo ou quando tava meio dodói, caso que certamente era este - frescura normal para um menino de sete anos. Papai já tinha saído pra trabalhar, então mamãe pediu pra Al deitar ao meu lado, pra eu não ficar sozinho (que meigo). Al deitou. Achei estranho, porque assim que terminou de ouvir as instruções recorrentes que mamãe dava antes de sair de casa, ela deitou, fechou os olhos e supostamente dormiu imediatamente.

- Ninguém pega no sono tão rápido, logo pensei.

Aí, envolto pelo instinto mais primitivo da libido humana eu comecei a admirar aqueles seios fartos e maravilhosos. Eu jamais tinha visto o que estava com vontade de fazer, nem em filmes ou revistas, mas me bateu uma vontade louca de acariciar aqueles seios. E assim o fiz, enquanto sentia um calor que incendiava o meu peito e uma sensação gostosa que fazia meu pênis ficar ereto, como jamais havia reparado que ele podia ficar. Depois de algum tempo acariciando os seios, eu senti vontade de beijar aquele volume que minhas mãozinhas quase não davam conta de apalpar. Eu levantei sua blusa, e olhei de novo pro rosto dela pra ver se ela se mexia. Levantei com mais força, algo que acordaria qualquer pessoa que não fingisse estar dormindo. Parece que ela fechou mais ainda os olhos. E eu, munido de algo que só depois eu saberia que responde pelo nome de tesão, continuei.

Quando terminei de levantar a sua blusa, eu reparei pela primeira vez o quanto um sutiã nasceu para os seios da mesma forma como os motéis nasceram para as amantes. Aquela combinação perfeita não demoraria muito ante meus olhos, entretanto. Eu não estava afim de reparar em moda, mas sim de beijar aqueles peitos. Quando eu finalmente os vi desnudos, eu comecei a beijar um pelas bordas, enquanto acariciava o outro com minhas mãos. Os seios fartos de al ficavam perfeitos a mostra, porque apesar de serem bem grandes, desproporcionais ao seu corpo, quando ela deitava com o tórax voltado pra cima eles meio que se ajeitavam, e o que era suculento, ficava completamente irresistível.

Fui beijando até chegar ao bico, quando vi a Al se mexer pela primeira vez – uma contorcida muito sensual, inclusive. Então, tudo o que conseguia fazer ali era chupar, chupar, beijar o seio todo, lamber da borda ao bico e chupar e acariciar - eu deixaria Freud orgulhoso - até que quando percebi, estava em cima de Al, roçando meu pênis sob a cueca na vagina dela sob o short de lycra, naquele volume gostoso em forma de capus de fusca que tempos depois ela mesma me apresentaria pelo nome buceta. No auge dos movimentos eu quis tê-la de costas (?!), mas ela não permitiu. Ainda com os olhos fechados dissimulou muito bem uma dorminhoca que não quer mudar de posição. Eu, que já estava muito bem daquele jeito, obrigado, continuei até a hora que meus irmãos acordaram.

Quando a mana entrou no quarto, Al disse:

- *Égua, que horas são? Eu tava dormindo até agora.

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Essa história me lembra a casa de um primo de um amigo meu. Lá um pai tinha dois filhos adolescentes e a esposa reclamosa – sempre elas – pegou uma menina do interior pra ajudá-la com as coisas. Um dos garotos , naturalmente, começou a comer a moça. Mas ela sempre exigia que fosse NAQUELE horário. Uma vez, ele puto da vida, e morrendo de tesão, não agüentou e foi antes da hora. Pegou seu irmão só de cueca indo pro quarto dela tanbém. Antes dos dois se espantarem o suficiente, foram repreendidos pelo pai.

- O que vocês estão fazendo aqui só de cueca? Perguntou o pai indignado.
- E o que o senhor fazia no quarto dela aí pai? Responderam com outra pergunta os filhos, a essa altura lamentando por não esperarem religiosamente a hora marcada por ela.

Quando a ajudante saiu do quarto com uma cara de decepção, a menina constatou que sua gula já fora descoberta. Mas nessa confusão, a mãeconseguiu perceber as coisas no ar, como as mães sempre percebem – ainda que atrasadas às vezes. Mordida, mandou sua ajudante de volta pro interior já ao amanhecer.

Escrevo isso por lamentar que minha mãe nunca arrumara uma ajudante que gostasse tanto de trabalhar.

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Esta minha história com Al não terminou muito bem, infelizmente. Algum tempo depois, quando entrei naquela fase que alguns moleques entram de ficar contando vantagem, eu contava pra todo mundo que tinha comido a Al de tudo quanto foi posição. Contei pra Luciana, que era mais fofoqueira que eu (me fudi). Luciana, munida da competição natural feminina, foi perguntar pra Al se era verdade. Al me procurou na frente da Luciana. Fiquei tão traumatizado com a prensa, que só consegui lembrar agora dessa história.

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Na próxima postagem de Galos Noites e quintais apresentarei uma aventura da galera. E continuarão vendo que a vida na periferia é difícil, mas também é muuuuuuito divertida.
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* "Égua" é uma interjeição típica do povo do norte paraense.

- Al não era exatamente uma pedófila porque tinha só sete anos a mais que eu.

- A canção "Galos Noites e Quintais" interpretada por Jair Rodrigues, que inspirou esta postagem-novela, você pode baixar aqui.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ditados Pós-modernos - Tragressão 2

  • Depois que inventaram essa tal palavra "pós-moderno”, a gente não pode mais chamar ninguém de idiota.
  • *Quer saber como ela ficará no futuro? Olhe se ela terá grana.
  • O último que sair aperte Alt + F4 e depois Enter.
  • De preconceituoso e demagogo todo mundo tem um pouco.
  • Uma safada só não faz orgia.
  • A justiça fuma mas não traga.
  • A grana do vizinho é sempre mais verde.
  • Cheirar é o melhor remédio pra curar o baixo astral.
  • Não sabendo que era pecado ela foi lá e deu.
  • Os acomodados que se mudem.
  • É com patetas que elas casam mais

    É com safados que elas gozam mais

    É pros carecas que elas mentem mais
  • Em corpo fechado não entra diabo
  • Quando um não quer, dois não fodem.
  • Um é pouco, dois é mais ou menos e com três começa a melhorar...
  • Quando a esmola é demais o povo faz fila.
  • **As feias que me perdoem, mas ter dinheiro é fundamental.
  • A pressa é amiga da ejaculação.
  • Entre padres e maridos não ressuscitou ninguém.
  • Pastor bom é pastor rico.
  • Melhor do que isso só barato disso.
  • E agora Maxyuell?
    O ladrão te roubou
    O imposto aumentou
    Sua esposa broxou
    Sua amante faltou
    E agora Maxyuell?

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* ** Dedicados a Joelma do Calypso.

As postagens "Ditados Pos-modernos" são inspiradas no livro "As Coisas", da obra de Arnaldo Antunes.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

13 anos - a vida toda!

Pra não dizer que te amo eu finjo que não ligo,
eu digo o que não sinto,
eu fujo do perigo,
eu louvo o inimigo...
Pra não dizer que te amo, eu luto contra mim,
experimento todas as máscaras,
eu conto conto,
digo bravatas,
me lambuso no ridículo...
Pra não dizer que eu te amo, eu fico tímido,
eu não te olho,
eu amo outra,
eu me esquivo,
eu rezo mantras.
Pra não dizer que te amo eu corro,
me escondo,
me puno,
eu morro,
eu choro,
eu tenho sono...
eu tenho mais o que fazer.
Pra não dizer que te amo, eu minto,
eu desisto,
fico de castigo,
eu viro escravo,
corro perigo,
eu paro um carro,
aparo tiro.
Pra eu não dizer que te amo,
é só mesmo quando eu te amo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Maioridade Penal não é brincadeira de criança

Existem determinadas opiniões que caem no senso comum. Uma delas diz respeito à maioridade penal. A maioria das pessoas costuma dizer que deveriam mesmo reduzir a maioridade penal para que os delinquentes de 16 anos paguem o preço justo pelas barbáries cometidas. Entretanto, infelizmente a maioria da população não consegue ver o que de fato rege este debate, se é de fato a luta por justiça ou simplesmente empurrar a sujeira para debaixo do tapete.

Programas policiais proliferaram a roposta da diminuição da maioridade penal na televisão a serviço da sede de sangue do povo, e para que a população pense que a emissora está de fato agindo em favor do povo. Nessas lástimas televisivas sempre tem um apresentador com pose de justiceiro propondo que se ponham na cadeia os bandidos, que político tem que ir para a cadeia ou discursos superficiais do tipo. No entanto, o que quase não se vê é uma análise mais profunda que de fato apresente à população o que está realmente acontecendo, algo que forme e não somente informe.

A favor da diminuição da maioridade penal existem basicamente argumentos que dizem que se uma pessoa de dezesseis anos vota, se tem direito a participar da decisão política do país, por que não poder responder criminalmente pelos seus erros? Há também quem diga que qualquer jovem de dezesseis anos já sabe o que é errado ou certo, ainda por cima em plena era digital, por isso um adolescente que comete um crime hediondo pegar três aninhos no máximo de "castigo" não faz justiça. Entre outros argumentos que perpassam sempre pelo viés de que uma pessoa de dezesseis anos - idade para a qual se pretende reduzir a maioridade penal, que na lei em vigor é de 18 anos - já pode ser responsabilizado pelo crime que comete.
Então tá certo. Agora eu gostaria de ver se a filha de quem prega esse tipo de coisa engravidasse aos dezesseis anos, será que ela deveria cuidar da criança só? Será que pelo fato de uma adolescente de dezesseis anos já saber praticar sexo ela já tem maturidade para assumir um filho só, sem a ajuda dos pais? Claro que não, ainda que ela deva sim assumir a responsabilidade pelos seus atos, não podemos dizer que é a mesma coisa uma pessoa de dezesseis anos ou uma de trinta engravidar. É óbvio que, por mais que se tenha uma quantidade de formação absurda sendo acessíveis a adolescentes, uma pessoa passa por etapas, e quando essas etapas não são respeitadas surgem problemas. E negar educação a quem comete crimes, ou erre, é negar a oportunidade de termos adultos melhores. Por isso, para o bem dos adolescentes e de toda a sociedade, um jovem de dezesseis anos não deve ser responsabilizado da mesma forma que um adulto.

Mesmo porque isso não resolveria o problema social que gira em torno da criminalidade neste país. É evidente que a falta de políticas públicas, que a desestruturação familiar, que a falta de emprego, sobretudo nos grandes centros urbanos, que a escassês de terras no campo para o povo, e tantas outras mazelas terceiromundistas contribuem para o auto índice de criminalidade no país. Construir cadeis, ou mesmo entupí-las não tem se mostrado a melhor solução. Hoje, no Brasil, 65% da população carcerária são jovens de 18 a 29 anos, dentre os quais 85% não terminaram sequer o ensino fundamental. Ou seja, não seria uma solução muito mais benéfica para o país se a educação fosse de maior qualidade e mais acessível aos adolescentes do que jogar um/a indivíduo/a numa cadeia por ter roubado uma carteira e lá o/a preso/a adolescente conviver com todo/a tipo de criminoso/a, fatalmente fazendo com que essa pessoa imatura passe por uma faculdade do crime com direito a mestrado e doutorado?

Falo isso porque não existe lei perfeita. Se existisse lei perfeita, não existiria advogado ou juiz. Uma lei que poderia muito bem ser justa para alguns casos, seria de uma crueldade imensa para com a maioria epobrecida. Alguém imagina que fazer uma reformulação da maioridade penal sem reformular todo o judiciário não faria com que só adolescentes pobres pagassem pelo crime que cometerem? Ou alguém aqui acha que diminuindo maioridade penal a justiça vai reinar nesse país como num passe de mágica? Se o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA) existe, e nós vemos nossas crianças e adolescente a cada dia mais abandonados, imagina se a partir de agora, ao invés de criarmos leis que defendam os adolescentes nós comecemos a criar leis que os prejudique? Nem todo crime acontece por razões maniqueístas. Nem todo mundo que está cadeia é um sujeito mal natural e definitivamente.

Se adiminuição da maioridade penal acontecer, os traficantes vão usar pessoas ainda mais jovens para o crime. Se nem um debate mais maduro acontecer antes disso, e o congresso e o Ministério da Justiça se contentarem a fazer meras enquetes - que toda vez aparecem favoráveis a diminuição - ,daqui a pouco vamos fazer o mesmo debate sobre adolescentes de quatorze anos, alegando que há adolescentes de quatorze anos bem entendidos etc.

O mais sensato seria fazer uma reformulação no ECA, para que penas mais rígidas ou formas alternativas de penalizações a adolescentes já próximos a maioridade penal garantissem maior justiça a crimes brutais cometidos por adolescentes, pois sei que sempre há excessões. Mas antes disso, deveriam ser reformulados por completo os centros de tratamento de adolescentes infratores, que por mais que esteja menos pior hoje, ainda que tenham mudado o nome, não conseguiu deixar de ser a FEBEM dos nossos pesadelos na prática. Antes disso também, deveriam ser votadas leis que garantissem melhores condições de trabalho aos professores, reformular o ensino público, garantir políticas públicas para a infância e juventude, garantir que o estado seja reconhecido como um protetor para que o adolescente não veja no dono da boca esse papel. Garantir que os jovens do campo possam ter condições de viver sua vida no campo, para que diminua o inchaço populacional, e por consequência a violência nas cidades. Depois que o Estado garantir isso, ou pelo menos dar prioridade a essas discussões, aí eu penso que seria justo rever alguns pontos do ECA.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

11 de Setembro - a desculpa que Bush queria


Eu não me sinto muito a vontade em escrever sobre isso, porque é um assunto que diz respeito a muitas vidas ceifadas direta e indiretamente por neo-kamikazes, vendedores de armas e empresários do petróleo. Não pretendo aqui fazer uma análise exatamente historiográfica, antropológica ou sociológica, o que pretendo com este texto é desabafar mesmo.

No dia 11 de Setembro de 2001 eu estava no sofá de casa quando o mala do Carlos Nascimento chamou o plantão da Globo anunciando que um avião havia se chocado numa das torres do World Trade Center. Durante alguns dos seus comentários (ainda presos, pro nosso bem, dentro da estrutura amordaçante do jornalismo global), a outra torre foi atacada. Eu percebi na hora, mas o Carlos Nascimento pensou que fosse replay. Só depois é que avisaram a ele sobre o segundo ataque, ou seja, eu vi ao vivo o momento que condenou milhares de pessoas a morte, e isso foi muito chocante pra mim.

A Al-Qaeada, grupo terrorista que assumiu os ataques, é especialista em ataques terroristas como este, inclusive comenta-se que um dos teóricos que estudaram foi o baiano Carlos Marighella - duvido que ele tivesse uma imaginação tão fértil quanto a de Bin Ladem - o que explica o fato dos ataques terem driblado o dito maior centro de inteligência contra ataques terroristas do mundo.

Aí pronto, Osama Bin Laden foi eleito o cara mais malvado do mundo, e o império estadunidense provocou lágrimas no mundo pela maldade dos terroristas do oriente, através de seus recursos midiáticos de altíssima qualidade. Pouco se falou nesse bojo que tudo o que Bin Laden, líder da Al-Qaeda e assumidamente o mentor do ataque, é cria do Bush Pai. Na década de oitenta, quando os EUA municiaram os grupos guerrilheiros contra a invasão soviética, Bin Laden era um dos principais atores do conflito, e na época ficou muito agradecido pela ajuda recebida do governo estadunidense. Quer dizer que ser terrorista contra os soviéticos é um dever cívico, e ser terrorista contra os estadunidenses é maldade?

Não vou aqui citar números, apesar de entender que muitas vezes números são relevantes, porque costuma-se reduzir vidas a meros números como estratégia de amenizar a dor alheia, a crueldade dos inimigos do povo. Mas pensemos da seguinte forma: eu espero que a pessoa que estiver lendo esse texto jamais tenha perdido um ente querido, mas mesmo quem não perdeu conhece alguém que já passou por essa experiência trágica, e sabe o quanto é dolorosa a despedida definitiva, ainda por cima quando ela é prematura, e mais ainda se for fruto de alguma maldade humana. Agora imaginemos milhões de pessoas inocentes vítimas de pessoas que pensam que a vida não passa de uma pedra que devemos pisar para não tocarmos na lama. É contra esse tipo de gente que reside a minha revolta expressa aqui.

Porque todos sabemos que logo após os ataques de 11 de Setembro os EUA saíram em ofensiva contra o Iraque e o Afeganistão para que o Bush filho fizesse o acerto de contas pelo Bush Pai e assim a indústria bélica e petrolífera dos EUA, financiadores da campanha de Bush, pudessem ter o retorno esperado. E nessa brincadeira vimos o quanto a ONU é tão legítima quanto uma nota de três reais e observamos atônitos mais vidas sendo exterminadas a troco de nada - na verdade, muita grana

Contra o Iraque a coisa foi ainda mais gritante, pois como já havia passado a febre do 11 de Setembro, o demoníaco Bush inventou que lá haviam armas químicas e usou a falta de democracia explícita no país oriental para iludir o mundo e mais uma vez projetar os EUA como heróis planetários, no melhor estilo hollywoodiano. O Iraque então, impotente, abriu as portas para que inspetores da ONU buscassem as tais armas químicas. Não acharam. Aí, depois que tinham tirado as maiores armas do Iraque, os EUA invadiram mesmo assim, dizendo que era mentira do Saddan Hussein e tudo mais. Pronto. EUA invadem exibindo seus melhores brinquedos em propagandas que custaram o preço de vidas inocentes, e ainda por cima, o adversário que já não era forte teve seus braços amputados, talvez para que não se corresse o risco de arranhar os brinquedos do Bush, pois eles seriam vendidos ainda.

Como é que o cara que fralda as eleições para vencer pode pregar democracia? Como é que um país pode dizer que o Iraque é perigoso tendo a maior quantidade de ogivas nucleares do mundo? Como é que um país pode se dizer democrático se até o voto dos estados ricos tem mais peso do que o voto dos estados pobres? Como é que eu vejo a imprensa puxa-saco de estadunidense dizer que os ataques contra as torres gêmeas foram cruéis - e foram mesmo - e não dizer o mesmo sobre as invasões imperialistas dos EUA? Como é que Bush chama Saddan e Fidel de ditadores e invade o país alheio mais fraco como um elefante pisa numa formiga?

Essas são minhas angústias. Pra falar a verdade eu me sinto bem com elas, pois sei que Bush e outros terroristas mundiais não sentem o mesmo. E enquanto a humanidade tiver a capacidade de se indignar perante a injustiça e fazer disso uma arma em prol da justiça, eu terei motivação para continuar vivendo. Pois viver num mundo onde ninguém se importa com o próximo é como não viver.

Meus sentimentos aos parentes das vítimas de todo e qualquer atentado terrorista no mundo. Em especial, já que falo da Amazônia, aos parentes dos trabalhadores sem-terra massacrados em Eldorado dos Carajás pelas tropasde Almir Gabriel, aos "órfãos" de Ir. Dorothy nos PDSs da terra do meio no Pará, e a todos e todas que tiveram uma chaga aberta pela intolerância e perversidade humana. Meus sentimentos mais que especiais para as crianças exterminadas nesse processo, pois saber que crianças são assassinadas em troca de papel e títulos é algo que me tortura profundamente. ODEIO ESSE SISTEMA MALDITO! ODEIO SABER QUE BIN LADEN AINDA PODE SER PRESO OU EXECUTADO, MAS BUSH E TANTOS OUTROS TERRORISTAS ESTADUNIDENSES CONTINUARÃO IMPUNES ENQUANTO O IMPÉRIO NÃO CAIR!

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Recomendo as seguintes obras para reforçar o assunto aqui tratado:

- Documentáro "Fahrenheit Onzede Setembro", de Michael Moore - Recomendo procurarem no You Tube o discurso do diretor que ganhou o Oscar de melhor documentário por essa obra. Vale a Pena.

- Canção "Armas Químicas e Poemas" de Hunberto Gessinger registrado pelos Hengenheiros do Hawaii no Acústico MTV.

- O livro "Batismo de Sangue" de Frei Betto, para que possamos ter a visão de um religioso que participou do grupo terrorista de Marighella.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O mercado dos ungidos

Antes de começar a descer o pau, gostaria de dizer que a minha crítica será direcionada muito mais ao discurso geral dos/crentes do que propriamente contra os/as crentes. Entretanto, se algum/a crente se sentir vilipendiado pelos meus comentários, sinta-se dedado/a pelo meu dedão do pé como forma de agradecimento.

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Todo mundo já ouviu alguém usando termos como: “música do mundo”, “instrumento consagrado”, “música de Deus”, etc. Especialmente protestantes de denominações neo-pentecostais e católicos neo-pentecostais. Basicamente, tais afirmações não são de todo sem sentido, muito pelo contrário, sem querer entrar num debate biblista, é plenamente coerente defender tal discurso com bases sólidas bíblicas, e com isso ser muito convincente. Mas assim como Cristo fez distinção clara entre cristãos e não cristãos, defendendo que os cristãos não deveriam se contaminar com as coisas que os afastem de sua fé, Ele também não fez isso em relação ao dinheiro? Ou ele não disse pra dar a Cézar o que é de Cézar e a Deus o que é de Deus? Ou ele não disse que pra entrar no Reino do Céu o rico teria que vender tudo que tem e dar aos pobres?

É aí que reside a minha crítica quanto ao discurso de músicos consagrados e tal, porque pra mim esse discurso é muito mais uma estratégia de Marketing do que propriamente uma filosofia de vida. Pensem comigo, se eu tenho um grupo enorme de pessoas, um grupo além de enorme, crescente de pessoas, e consigo incutir neles/as que os produtos de nossa organização são portas para o céu e tudo o que não for vendido por elas são portas para o inferno, eu não tenho uma ótima fonte de renda como resultado? Lógico que sim. Mas o quanto o mercado fonográfico gospel/católico é lucrativo ninguém comenta... talvez por medo de que sua consciência os/as force a dar tudo o que ganharam de excedente aos pobres.

Essa prática de demonizar a mercadoria do concorrente é muito recorrente no mundo dos “mundanos”. Alguns anos atrás um comercial do Guaraná Antártica mostrava um cara numa colheita dizendo que ele estava lá pra colher a matéria prima do Guaraná Antártica (o guaraná), e provocava a rival Coca-Cola desafiando a multinacional estadunidense a mostrar a sua principal matéria-prima (folha de coca). Entre o comercial censurado em menos de uma semana do Guaraná Antártica e o discurso dos/as crentes a respeito das músicas mundanas há uma enorme semelhança, pois, o sonho de todo empresário é derrubar a concorrente e ter o mercado livre da silva pra enriquecer e morrer podre de rico.

Eu não estou defendendo com isso que as pessoas não possam vender os seus produtos, ganhar a vida honestamente fazendo aquilo que amam. Estou questionando o tipo de discurso, pois já vi muitas pessoas serem discriminadas por essa balela proferida por padres, pastores e crentes afins. Hora, se esses caras querem realmente recusar aquilo que é do mundo, porque o vaticano não vende a sua propriedade bilionária e dá aos pobres? Por que as igrejas protestantes não vendem suas propriedades e dão aos pobres? Ou vão me dizer que o carro importado do pastor é consagrado e está a serviço de Jesus, o mesmo Rei que nasceu num lugar fedendo a cocô de vaca e disse que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que o rico entrar no Reino?

Recentemente a Som Livre contratou Padre Fábio de Melo, Adriana e Aline Barros. Contratou porque é lucrativo. Afinal de contas, crentes não compram tanto CDs piratas como os seres do mundo. E agora? A Som Livre é consagrada? Eu, pra falar a verdade, fico muito contente que isso esteja acontecendo. Músicas neo-petencostais são um saco mesmo, sempre com aquele discurso: “eu sou um pobre e miserável pedaço de bosta;, Deus me manipula como uma marionete e se eu erro é porque o Diabo roubou as cordinhas de Deus por minha culpa, porque deixei de louvar e orar”. Mas agora, pelo menos, talvez esse discurso excludente e opressor de separar o joio do trigo só pelo rótulo da embalagem caia, ou pelo menos diminua.

Como diria o professor de geografia Fabiano, o capitalismo não é orgulhoso, tanto é que é camisa pra tudo quanto é lado estampando o rosto do Che dando lucro pra burgueses. Como os neo-pentecostais bebem da ideologia liberal/neoliberal do mesmo jeito que eu não ouço músicas religiosas babacas, penso que os empresários travestidos de ungidos darão um jeito de mascarar o discurso pra manter a aparência de coerência. Eu, como consolo para os revoltosos, me comprometo a resenhar músicas neo-pentecostais aqui, especialmente as mais tolinhas, para pelo menos lavar a nossa alma mundana.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Provérbios de msn

Eu tenho a mania de inventar frases. Algumas destas abaixo, eu criei "expontaneamentemente" teclando com alguém no msn, e outras eu criei no banheiro, no ônibus, namorando, ou seja, elas pipocam naturalmente vez ou outra...

  • A falsidade é o apelido discriminado da simpatia.
  • Não existe roubo, o que existe nesse país é doação involuntária.
  • O que seria das piadas sem os estereótipos? O que seria dos estereótipos sem as piadas?
  • Na trilha dos desgraçados só há um refrão, um eterno refrão.
  • Pior do que eufemismo só o não de mulher.
  • Há uma semelhança incrível entre cu e coração romântico: não é qualquer um que consegue entrar direito.
  • Há dois tipos de pessoas que certamente jamais serão cornos: os desinformados e os teimosos.
  • Pior do que a vida só a morte.
  • Na Amazônia nós vivemos as quatro estações num só dia de verão.
  • O demônio é parente não tão distante do papai Noel e do lobo-mal.
  • Se a igreja é o ópio do povo, os partidos são as heroínas dos militantes.
  • Antes das igrejas serem a indústria do dízimo, elas precisam ser fábricas de deuses.
  • Na falta de novas lendas para a Amazônia, inventaram a lenda do desenvolvimento sustentável.
  • A arte simplesmente é, e não tem culpa do pai ou da mãe que tem.
  • O tipo ideal de mulher é aquela que respira – porque é muito feio desperdiçar comida.
  • Assim como mulher não trai, mulher se vinga o homem também não trai, homem detesta fila.
  • A verdade é uma mentira bem contada.
  • Ter fé é se perguntar várias vezes a mesma pergunta e entre tantas preferir sempre a mesma resposta

Dentro de uma mente insana...

Dentro de uma mente insana encontra-se a cozinha da mamãe alagada pelo sangue inocente de prostituas menstruadas ou simplesmente estupradas ao sol de meio dia aromatizado num ambiente de suor fresco e fedorento de mendigos ou transeuntes bêbados rumando ao progresso harmônico e devasso das pretensões cosmopolitas advindas das mensagens de amor de Mefisto em favor da humanidade que são subtraídas mediante ao furor de almas atormentadas por mensagens pacíficas em favor da vida que rareiam o cotidiano das pessoas normais e naturalmente deletérias cujo charme indefectível é tão honesto quanto estas palavras difíceis que só garantem emprego a dicionaristas e gramáticos/dramáticos mal-amados que promovem seu ressentimento pelo canal que melhor lhe cabe a vítimas como todos são de qualquer coisa que as oprime enquanto são ou não capazes de reagir mediante a motivação que surge do âmago de seu ventre pinocheano ou guevarista e cresce e se reproduz de forma miserável ou santa dependendo da companhia ou da moda vigente ditadas pelo programador da vida e seus botões malditamente desordenados promovendo a lógica dos caducos ou de quaisquer outras pessoas de igual simpatia e carisma que como esse texto dependem das concordância e de uma coerência como a gordura depende da carne e os dentes precisam das cáries embora famintos e dentistas nem sempre concordem com essas ou/e outras máximas da mín(ha)ima vida. Ou não.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Grito dos Excluídos em Belém - 2009


A 15ª edição do Grito dos Excluídos foi uma experiência nova e gratificante, em que tivemos a oportunidade pela primeira vez em quinze anos de grito, de poder ouvir o grito dos excluídos que não estão necessariamente em nem uma organização popular, que não são necessariamente esclarecidos sobre o contexto político que os prejudica, e dessa forma, gritos que são muitas vezes silenciados puderam ser finalmente libertos.

Como tudo que é novidade, mudar a metodologia do grito de Belém foi difícil e enfrentou resistência, pois desde a primeira edição o ato seguiu logo atrás do desfile militar para não só chamar a a tenção das autoridades lá presentes como também do público que ali estivesse. Mas isso passou a ficar uma coisa um tanto automatizada e desprovida da voz dos verdadeiros excluídos, ainda que a dinâmica dos prés-gritos fossem recomendados todos os anos veementemente, pois seriam atividades para justamente preparar o povo nos bairros para estarem presentes no momento maior e apresentarem sua voz.

Algumas entidades um tanto mais fora do debate que mudou a dinâmica da atividade fizeram uma leitura um tanto equivocada da mudança. Houve quem dissesse que a mudança do ato para uma periferia seria para não peitar a Governadora Ana Júlia, ou outras autoridades que pudessem estar presentes no desfile militar. Houve quem questionasse o tema do grito - Vida em Primeiro Lugar - dizendo que seria um ataque direto contra o aborto, dessa forma ferindo a autonomia de movimentos feministas que defendem o aborto. Mas também houve quem dissesse que a mudança foi positiva, pois finalmente poderia se ouvir o grito dos excluídos de fato, ali simbolizados pela massa da Terra Firme que é um dos bairros mais emblemáticos do Pará quando o assunto é exclusão.

Não foi possível fazer contato com todas para que estivessem presentes na construção do ato, provavelmente por falta de eficiência da equipe que estava nos bastidores do grito, entre eles eu, mas, não há dúvida que um ato que acontece há quinze anos e que historicamente envolveu todas as organizações - convidadas ou não - não precisam de maiores convites para que se façam presentes, sobretudo entidades que já constroem o grito desde a sua primeira intervenção. Mas o grito, assim como qualquer movimento democrático é assim mesmo, pois a pluralidade provoca muitas vezes confusão, e quem não estiver disposto a enfrentar tal dificuldade está fadado a cometer o pecado da imposição e da personalização da luta, seja num ambiente de esquerda ou em qualquer um em que se exija respeito e companheirismo.

No mais, foi positivo ver o quanto a comunidade da Terra Firme se meteu de cabeça no projeto. Apesar de ser um bairro estigmatizado pela grande imprensa, há nele pessoas maravilhosas como Francisco, Geise, Bruno, e outras tantas que apesar das dificuldades nunca ousaram desistir de continuar lutando por dignidade para o bairro sem arredar o pé dali. É fantástico ver gente como a gente que quer viver como poucos.

O grito na Terra Firme certamente foi o primeiro de muitos em áreas periféricas, dado o sucesso que foi a primeira tentativa. E fica a mensagem, ao menos pra mim, que muitas vezes na ânsia de construir um ambiente democrático muitas vezes nós acabamos sendo ditadores do futuro e não damos oportunidade para que os maiores interessados num futuro melhor, ou seja, pessoas que nem conseguem imaginar que há um futuro diferente do que o cinza amanhã que vislumbram todos os dias, também sejam dignos pelo menos gritar e serem ouvidos.

sábado, 5 de setembro de 2009

Infância...


Não sei se é por eu ter vivido uma adolescência muito obscura, mas o fato é que eu venero a minha infância, mais precisamente a faixa etária do Menino Maluquinho, entre 7 e 11 anos, quando eu brincava na rua quase todos os dias, quando eu vibrava a cada selilho que eu dava nas meninas, quando eu jogava bola de dia de tarde e de noite, quando lama e piscina tinham o mesmo papel: diversão.

Há um poema do Casimiro de Abreu *em que ele comenta sobre sua saudade da maravilha que era ter oito anos de idade, de como tudo parecia mais vivo, e toda vez que eu leio esse poema me vem um misto de prazer e tristeza. Lembrar da infância me deixa triste ao perceber que eu não sou mais tão livre como naquela época, como já não experimento o novo com a mesma voracidade, mas ao mesmo tempo ao relembrar daqueles dias felizes eu me sinto feliz no presente também, é como se eu me transportasse de novo, e sentisse o perfume da manhã com a mesma fome de outrora.

É claro que é impossível voltar no tempo. A montanha da vida tende sempre a nos levar pra cima ou provoca uma queda mortal, mas é inevitável experimentar o sabor do tempo passado como um ar meio de arcaico. A impressão que tenho é que quanto mais eu tenho saudades do passado eu fico mais velho. Hora isso me chateia, hora não.


O criador do Menino Maluquinho, o cartunista Ziraldo, conta que a idade do Maluquinho é essa, entre 7 e 11 anos, porque é a fase mais feliz da pessoa. É quando não temos mais uma inocência demasiada, ou seja, quando já fazemos uma leitura de mundo interessante, mas ao mesmo tempo não temos os vícios e os conflitos da adolescência. A partir do que ele diz, eu sou o arquétipo do Menino Maluquinho, pois a minha adolescência foi muito difícil, obscura e insalubre. A impressão que eu tenho é que há uma lacuna em minha vida; parece que eu vivi até os 11 anos, quando começaram a aparecer as minhas primeiras espinhas, e voltei a viver com 21 anos.


Eu nem sei porque eu estou escrevendo isso, e nem quero. Os porquês dos adultos são muito mais irritantes que os Por ques das crianças. Viver de forma inconsequente no mundo adulto parece síndrome de Peter Pan, mas o mundo dos adultos é que parece a verdadeira Terra do Nunca. Não é que eu não goste de crescer, na verdade, o que eu não gosto é de envelhecer, no sentido fiosófico da palavra. A aurora da minha vida é realmente a infância, mas o sol continua nascendo todo dia, e me dizendo toda vez que queima a minha pele a mesma mensagem de amor que todos adoramos ouvir: sempre podemos fazer novo de novo**. Obrigado sol.
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* Meus 8 anos (Casimiro de Abreu)
**Parafraseando verso de Paulinho Moska

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Salário mínimo de R$ 2.005,00








O DIEESE acaba de divulgar que o salário para manter as despesas das pessoas não só com alimentação, mas também com saúde, roupas, educação, transporte, etc. com base no preço desses produtos/ serviços em todo o Brasil deveria ser de R$ 2.005,00 (DOIS MIL E CINCO REAIS!!!!).
É engraçado o quanto saber disso provoca um misto de revolta e risos em nós, pois, não seria necessário que um órgão desses que muitos nem sabe o significado ou o que quer dizer a sigla (Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos) dissesse isso. Basta olhar o quão o pai e a mãe de família rebolam no dia dia para que sua (s) família (s) possa (m) gozar o que merecem - no sentido mais divino da palavra.

Algumas pessoas costumam comentar que um salário mínimo desse volume faria com que as empresas tivessem prejuízo - na hora de arcar com a folha de pagamento - da mesma forma como a previdência quebraria, etc. Hora, raciocinem comigo, quando o povo recebe o décimo terceiro salário no fim do ano as empresas tem prejuízo ou aumentam seu lucro? Se o salário mínimo - e miserável - duplicado enche o bolso de todo mundo sem prejudicar ninguém, imaginem se tivéssemos um salário mínimo de dois mil conto todo mês? Alguém aqui acha que o povo ia ficar guardando o dinheiro em baixo da cama só pra ficar admirando as verdinhas?

Mas no nosso caso, o presidente anunciou que vai pagar no ano que vem um quarto do valor escrito como ideal pelo DIEESE, e isso sem contar que no ano que vem o salário mínimo ideal já será maior, devido a inflação. Ou seja, parafraseando Frei Betto, enquanto tivermos trabalhadores que não gostam de discutir política e economia, a política econômica no Brasil continuará sendo comandada por quem gosta - e gosta muuuuuuuuuuiiiito. Mas não se preocupem, porque apesar do descaso pelos pobres o Brasil continua pagando muito bem para os agiotas internacionais e banqueiros da vida.

Sabe... ? (Devaneio 2)

Sabe quando você começa o dia sorrindo e achando que é o maior picudo do mundo e que nada pode te impedir de alcançar seus objetivos, pois você é grande demais mediante os obstaculozinhos que possam ousar aparecer diante de você nessa vida maravilhosa e acaba o dia chorando e tendo a certeza que você é a pior criatura do mundo, que nada do que você desejar será seu de verdade como tanto desejara, pois você é escroto demais para achar que vai conseguir algo de bom nessa vida maldita? Não?! Pois é... mas afinal quem nunca cavalgou ao sabor do vento na aventura que é a vida? Você?! Pois é...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Paralamas e Titãs em Belém



Dia 25 de Setembro, no Cidade folia, Belém irá receber um show maravilhoso. Trata-se de duas das minhas bandas prediletas e algumas das mais badaladas do Brasil. Há um tempinho que não vem um grande show de Rock pra cidade das mangueiras, e esse, com certeza, é um show que muitos esperam.

"É verdade mesmo isso ou é lenda?", questiona o técnico em edificações Edivaldo Souza, 28, tal o descostume com eventos desse porte e dessa qualidade nos últimos tempos por aqui. Para ele, esse é o tipo e evento que pessoas que admiram a geração roqueira oitentista não pode peder jamais.

Muitas pessoas dizem que Os Paralamas do Sucesso são a melhor banda brasileira no palco. "Eu ja fui a muitos shows na minha vida, inclusive de bandas de rock dos anos oitenta, inclusive shows internacionais, mas nunca fui a um show tão empolgante como o dos paralamas", diz Keila Magalhães, 35, que acredita ser da banda de Brasília uma das melhores perfomances técnicas no palco, principalmente do baterista João Barone, que segundo ela é muito foda.

Para mim, por exemplo, Titãs são a melhor banda de todos os tempos de todas as semanas. Acho perfeito o caráter "comunitário" e anárquico da banda, no sentido positivo da palavra. Fantástico ver uma banda sem líder,e ao mesmo tempo recheada de liderança e atitude. Com algumas das letras mais inteligentes já compostas em terras tupiniquins e um estilo inconfundível, Titãs são no mínimo dos mínimos, indubitavelmente respeitáveis.

As duas bandas juntas, como já se pode perceber nos CD e DVD ao vivo lançados por eles , possuem uma energia incrível. Claro que é quase impossível que os convidados para a gravação venham pra cá, como de praxe, mas seria perfeito ver as bandas junto com Arnaldo Antunes, Samuel Rosa e Andreas Kisser. Espero ver todos e todas juntos nesse show que será uma verdadeira celebração. Espero também que nesse dia não me dê diarréia aguda, que eu não seja atropelado e veja minhas tripas sendo expostas, que eu não seja estuprado por um negão, que nem um avião caia sobre mim, que eu não tenha nem um acidente que me provoque traumatismo craniano, que o ônibus que eu pegue não queime, ou seja, que nem um contratempinho me impeça de ir.