Seguidores

Nuvem de Tags

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Grito dos Excluídos em Belém - 2009


A 15ª edição do Grito dos Excluídos foi uma experiência nova e gratificante, em que tivemos a oportunidade pela primeira vez em quinze anos de grito, de poder ouvir o grito dos excluídos que não estão necessariamente em nem uma organização popular, que não são necessariamente esclarecidos sobre o contexto político que os prejudica, e dessa forma, gritos que são muitas vezes silenciados puderam ser finalmente libertos.

Como tudo que é novidade, mudar a metodologia do grito de Belém foi difícil e enfrentou resistência, pois desde a primeira edição o ato seguiu logo atrás do desfile militar para não só chamar a a tenção das autoridades lá presentes como também do público que ali estivesse. Mas isso passou a ficar uma coisa um tanto automatizada e desprovida da voz dos verdadeiros excluídos, ainda que a dinâmica dos prés-gritos fossem recomendados todos os anos veementemente, pois seriam atividades para justamente preparar o povo nos bairros para estarem presentes no momento maior e apresentarem sua voz.

Algumas entidades um tanto mais fora do debate que mudou a dinâmica da atividade fizeram uma leitura um tanto equivocada da mudança. Houve quem dissesse que a mudança do ato para uma periferia seria para não peitar a Governadora Ana Júlia, ou outras autoridades que pudessem estar presentes no desfile militar. Houve quem questionasse o tema do grito - Vida em Primeiro Lugar - dizendo que seria um ataque direto contra o aborto, dessa forma ferindo a autonomia de movimentos feministas que defendem o aborto. Mas também houve quem dissesse que a mudança foi positiva, pois finalmente poderia se ouvir o grito dos excluídos de fato, ali simbolizados pela massa da Terra Firme que é um dos bairros mais emblemáticos do Pará quando o assunto é exclusão.

Não foi possível fazer contato com todas para que estivessem presentes na construção do ato, provavelmente por falta de eficiência da equipe que estava nos bastidores do grito, entre eles eu, mas, não há dúvida que um ato que acontece há quinze anos e que historicamente envolveu todas as organizações - convidadas ou não - não precisam de maiores convites para que se façam presentes, sobretudo entidades que já constroem o grito desde a sua primeira intervenção. Mas o grito, assim como qualquer movimento democrático é assim mesmo, pois a pluralidade provoca muitas vezes confusão, e quem não estiver disposto a enfrentar tal dificuldade está fadado a cometer o pecado da imposição e da personalização da luta, seja num ambiente de esquerda ou em qualquer um em que se exija respeito e companheirismo.

No mais, foi positivo ver o quanto a comunidade da Terra Firme se meteu de cabeça no projeto. Apesar de ser um bairro estigmatizado pela grande imprensa, há nele pessoas maravilhosas como Francisco, Geise, Bruno, e outras tantas que apesar das dificuldades nunca ousaram desistir de continuar lutando por dignidade para o bairro sem arredar o pé dali. É fantástico ver gente como a gente que quer viver como poucos.

O grito na Terra Firme certamente foi o primeiro de muitos em áreas periféricas, dado o sucesso que foi a primeira tentativa. E fica a mensagem, ao menos pra mim, que muitas vezes na ânsia de construir um ambiente democrático muitas vezes nós acabamos sendo ditadores do futuro e não damos oportunidade para que os maiores interessados num futuro melhor, ou seja, pessoas que nem conseguem imaginar que há um futuro diferente do que o cinza amanhã que vislumbram todos os dias, também sejam dignos pelo menos gritar e serem ouvidos.

Nenhum comentário: